Devir-criança e infantilização pela Rua Sete em Vitória: narrativas para a ilha rever
Devir-criança. Infantilização. Narrativas. Rua Sete de Setembro.
Este trabalho tem como objetivo a construção de narrativas da Rua Sete de Setembro, no Centro de Vitória (ES), em ruptura aos estratos dominantes que versam sobre seu esvaziamento. Para tanto, aproximamos os conceitos de infantilização e devir-criança ao campo da arquitetura e do urbanismo. Consideramos infantilização como uma estratégia da máquina de produção da subjetividade capitalística que retira do indivíduo a autonomia para pensar e organizar a vida. O conceito de devir-criança, por sua vez, remete a linhas de fuga, processos de desterritorialização, foco de uma micropolítica que atua na experiência cotidiana e se conecta com as capacidades de percepção e afeto que a criança possui antes de ser modelizada pelos equipamentos produtivos. Acessar o devir-criança se trata, portanto, de entrar no campo da experimentação, de subverter a lógica adultocêntrica e abandonar a máscara que impõe limites, domestica e desencoraja. Assumimos no trabalho uma postura metodológica incorporada de devir-criança na maneira de pesquisar, manipular e escrever com os afetos sentidos pelo corpo vibrátil do cartógrafo-pesquisador em busca de outros devires-criança na cidade. Tais afetos, encontros aparentemente aleatórios, deram-se através da pesquisa em campo e em acervos documentais. Com eles criamos um banco de dados composto por documentos heterogêneos em suas espécies e datações - fotografias, recortes de jornais, correspondências e publicações oficiais, mapas, projetos arquitetônicos, entrevistas e anotações em diários de bordo. Os documentos foram tomados como fragmentos com os quais brincamos em capítulos-blocos de fotografias-desenhos-contos-discussões. A escolha temática de cada Capítulo-Bloco foi guiada pela tensão entre tentativas de infantilização e acionamento de devires-criança da e na cidade e se relacionam ao uso do espaço público pelas crianças; ao carnaval de rua; e à disputa pelo uso da rua, especialmente em bares e suas mesas nas calçadas. Na Rua Sete e adjacências esta tensão é viva ao menos desde o final do século XIX. A forma de apresentação do trabalho procura evidenciar as inúmeras possibilidades de combinações dos documentos e indicar a potência do devir-criança para pensar, narrar e rever a ilha de Vitória por outros ângulos e olhares.