Rodelas e o Hidronauta: a contenção como desvio memorial no São Francisco
Palavras-chave: barragem, cidade, fantasma, tempo, paisagem, memória.
O rio São Francisco abriga uma relação tensa com os mecanismos de contenção e abertura no desenho do seu curso, como barragens, transposições, canalizações, dentre outras dobras extensivas ao projeto moderno de civilização. Mesmo com todos esses desvios de origem diversa, o São Francisco escapa e deságua no mar. Os efeitos sentidos por populações e cidades submersas pelo estrangulamento do rio são permanentes e semantizam transformações, deslocamentos e, por cadeia, norteiam a produção de novos sentidos e subjetividades, memórias e histórias. Os espaços liberados pela fricção dessas forças, especialmente na região de Rodelas, engolida pelo São Francisco por conta da barragem de Itaparica, levantam algumas questões. De que forma os sentidos espaciais se estabelecem? Como e quem tem o poder de transformar os espaços em lugares? Como se dá o espelhamento da paisagem de uma cidade submersa com a reconstrução de seus espaços e memórias num outro lugar? Em meio a condução desses problemas, o pesadelo pandêmico desaba sobre a pesquisa como mais um regime de contenções, onde tudo parece ruir. A sombra compulsória dessa interdição desvia completamente os rumos do seu andamento ao inserir a variável das sensações e da imaginação como esperança metodológica diante da clausura e da impossibilidade de um trabalho campal. Entre mortes e ressurreições, a pesquisa decide se colocar em risco e experimentar. Entra em conflito com o objeto de estudo e suas relações de forças no espaço investigado, se perdendo numa espiral de temporalidades e paisagens ao reinventar uma máquina temporal desarmada pela pandemia e adentrar, a distância, no universo memorial de Rodelas. Numa abordagem atípica, mas atenta à pertinência das histórias, sinais e direções, a pesquisa performa na sobreposição de duas Rodelas, suas simetrias e contradições, trazendo a tona um mapeamento afetivo desse espaço ao trazer outras perspectivas e abordagens por meio da imaginação diante da barragem.