Atualização funcional e valores culturais do Hospital-Sanatório Santa Terezinha: desafios e conflitos na preservação da Arquitetura Moderna Antituberculose
Arquitetura moderna antituberculose, patrimônio da saúde, hospital-sanatório, valores culturais.
Os campos de preservação do patrimônio edificado e da arquitetura para estabelecimentos assistenciais de saúde possuem suas normativas específicas que, muitas vezes, não dialogam entre si. Considerando os movimentos recentes de valorização e preservação da arquitetura moderna, intensificados mundialmente nas últimas décadas, é possível observar inúmeros hospitais construídos durante este período que possuem valores culturais singulares, muitas vezes sequer identificados. Dentre os poucos exemplares inventariados e salvaguardados, destacam-se bens da arquitetura antituberculose, que com seus princípios higiênicos e terapêuticos, contribuiu para o estabelecimento e difusão da linguagem moderna em todo o mundo, e recentemente tem sido valorizada, apesar dos diversos desafios e conflitos enfrentados na preservação dos seus valores culturais. Sendo assim, o objetivo geral do presente estudo de caso é analisar, a partir da compreensão da sua trajetória histórica, as transformações físico-espaciais decorrentes das necessidades de atualização funcional do Hospital-Sanatório Santa Terezinha, o único exemplar deste tipo construído na Bahia, considerando os desafios e conflitos para a preservação dos seus valores culturais. Para tanto, utilizou-se como metodologia o levantamento bibliográfico, a pesquisa de campo, além da análise documental sobre o projeto original, sua construção, reformas e novas propostas projetuais até o presente momento. A discussão dos dados e o estudo comparativo foram desenvolvidos com base na análise histórica e arquitetônica do edifício. Por fim, foi realizado um acompanhamento dos processos recentes de luta pela preservação dos valores do antigo hospital-sanatório. Como resultado, foram identificados e analisados os valores culturais do objeto vinculados à produção da arquitetura antituberculose, sintetizados e distribuídos em cinco categorias: 1) valor histórico-social; 2) valor estético-projetual-funcional; 3) valor técnico-científico; 4) valor de notoriedade-exemplaridade; 5) e valor de autenticidade-integridade / preservação. O Hospital-Sanatório Santa Terezinha, atual Hospital Especializado Octávio Mangabeira, inaugurado em 1942, foi a obra pioneira da arquitetura moderna em Salvador, tendo notoriedade internacional e uma estética emblemática. Em oitenta anos, vivenciou momentos de degradação e reformas para conservar o seu uso hospitalar, incorporando novas atividades que demandaram adaptações na sua espacialidade. A despeito da falta de proteção patrimonial e das recentes ameaças de descaracterização, nota-se a permanência da tipologia sanatorial, com uma leitura da volumetria, da forma e das soluções arquitetônicas antituberculose que marcaram a primeira fase da arquitetura moderna em Salvador. Diante disso, é possível concluir que o edifício dotado de valores culturais e prestes a ser tombado não é um objeto que deve ser mumificado para ser preservado; ao contrário, ele deve se manter em uso, servindo à sociedade, e pode ser ajustado às novas funções sem necessariamente sofrer alterações que desconfigurem sua essência primordial.