DETERMINANTES DE CURA E ÓBITO EM PACIENTES COM TUBERCULOSE: UM ESTUDO DE CASO BRASIL E COLÔMBIA
Tuberculose; MDR; Fatores de risco; Instituições de saúde; Resultados do tratamento; Cura; óbito
A tuberculose continua sendo a causa mais importante de morte por um único microrganismo infeccioso no mundo. Estima-se que 10 milhões de pessoas tenham desenvolvido a doença em 2018 no mundo, mas ainda pode estar sendo desatendida em muitos países. Situação que pode estar relacionada a uma avaliação limitada dos resultados do tratamento em países com baixa ou mediana renda, bem como a presença de fatores que afetam o resultado do tratamento da TB. Objetivo: Identificar determinantes de cura e óbito em pacientes com tuberculose. Determinar a associação entre o volume de pacientes com tuberculose tratados nos Serviços de Saúde por ano e o sucesso do tratamento de pacientes com tuberculose no Brasil. Determinar os fatores de risco para óbito em pacientes com tuberculose no Brasil. Determinar os fatores de risco para o fracasso terapêutico entre pacientes com resistência à rifampicina na Colômbia. Metodologia: Foi realizada uma revisão exaustiva da literatura sobre os resultados do tratamento da tuberculose e os estabelecimentos de saúde que atendem/assistem pacientes com tuberculose. Também foi realizado um estudo de coorte retrospectivo baseado em dados secundários de casos diagnosticados e notificados como TB, que iniciaram o tratamento entre janeiro de 2013 e dezembro de 2015 no Brasil, e os casos de TB resistentes à rifampicina na Colômbia. Os programas nacionais de controle da TB de Brasil e Colômbia forneceram os dados. As bases de dados foram anonimizadas para serem importadas pelo programa SPSS versão18. Análises estatísticas, descritivas e analíticas foram realizadas. Resultados: Foram incluídos 144 estudos na revisão “Fatores preditivos para o sucesso do tratamento da tuberculose: uma revisão sistemática com meta-análise”. A taxa de sucesso no tratamento da tuberculose sensível a medicamentos em adultos foi de 80,4% (IC95% 78,6-82,1). A América apresentou a menor taxa de sucesso no tratamento, 75,9% (IC 95%: 73,8% -77,9%); e a Oceania, a mais alta, 83,9% (IC 95% 75,2% -91,0%). Nas crianças, a taxa de sucesso foi de 83,4% (IC95% 71,0% -92,9%); nos pacientes coinfectados pelo HIV, foi de 70,5% (IC95% 62,8% -77,6%) e nos pacientes com TB-MDR foi 58,4% (IC95% 51,4-64,6). Pacientes com baciloscopia negativa aos 2 meses de tratamento tiveram quase três vezes mais chances de sucesso (OR 2,7 IC95%:1,5 - 4,8). Aqueles com menos de 65 anos (OR 2,1 IC95%:1,8 - 2,5), não alcoólicos (OR 2,0 IC95%:1,6 - 2,4) e HIV negativos (OR 1,9 IC95%:1,6-2, 3) tiveram duas vezes mais chances de sucesso. Vinte e dois artigos atenderam aos critérios de inclusão na revisão "Desempenho dos estabelecimentos de saúde no atendimento de pacientes com tuberculose no Brasil: uma revisão da literatura". Identificou-se que no Brasil os serviços de saúde que atuam como porta de entrada dos pacientes com tuberculose são o pronto atendimento e a atenção básica. Ambos apresentam fragilidades para identificar os casos, além disso, a atenção básica tem dificuldade na retenção dos pacientes e os hospitais apresentam altas taxas de transferência e óbito. No caso Brasil, 259.325 casos de TB foram registrados no SINAN entre 2013 e 2015, 13.339 foram eliminados por duplicatas ou ausência de dados, ficaram 245.986 pacientes elegíveis, dos quais foram selecionados somente 71.249 casos novos de TB confirmada. Deles, 46.736 (65.6%) foram atendidos nas unidades básicas de saúde; 13.591 (19.1%), em clínicas ou centros de referência da TB; 8.631 (12.1%), nos hospitais; e 2.291 (3.2%), em outro tipo de estabelecimentos, como prontosocorro e unidades de vigilância e gestão. A mediana de idade foi de 37,5 anos (IQ 27-51,6), na maioria foram homens, 49.477 (69,4), 5.644 (7,9%) foram HIV positivos e 5.415 (7,6%) tinham diabetes. Nesta coorte em geral, 55.195 (77,5%) dos pacientes foram curados, 8.163 (11,5) abandonaram o tratamento, 3.853 (5,4) foram a óbito, houve 2.959 (4,2) transferências, 197 (0,3%) casos de falência e 882 (1,2) viraram para MDR TB. As unidades básicas de saúde apresentaram o maior percentual de cura, com (82,6%), com menor percentual de abandono (10,9%) e óbito (2,8%), no entanto, os hospitais tiveram menor percentual de cura (47,9%), com maior percentual de abandono (13%) e de óbito (21,5%). Nas UBS: o sexo feminino e a estratégia DOTs na UBS que subministrou o tratamento se associaram com sucesso do tratamento; no entanto, o HIV positivo e o consumo de álcool se associaram com óbito. Nas clínicas: somente a estratégia DOTs na clínica que subministrou o tratamento se associou com sucesso do tratamento e HIV positivo se associou com óbito. Nos hospitais: o HIV positivo e consumo de álcool se associou com óbito. Nos outros estabelecimentos: a idade entre 15 e 65 anos e a estratégia DOTs no estabelecimento se associaram com sucesso do tratamento. Na Colômbia, 511 pacientes foram diagnosticados como TB RR nos três anos estudados, dos quais 16 (3,1%) eram XDR; 364 (71,2%), MDR; e 131 (25,6%), monorresistência ao RMP. A idade média foi de 39,9 anos (IC95%: 38,5 - 41,3); na maioria os pacientes eram homens, 285 (64,6%); e 299 (67,8%) eram afiliados ao regime de saúde subsidiado. A taxa de desfecho desfavorável do tratamento nesta coorte de TB RR foi de 50,1%, sendo 85,7% para XDR, 47,6% para MDR e 52,6% para monorresistência ao RMP. A idade maior ou igual a 60 anos (ORc 2,4 IC95% 1,1 - 5,8), (ORa 2,7 IC95% 1,1 - 6,8) e a afiliação ao regime de saúde subsidiado (ORc 3,6 IC95% 2,3 - 5,6), (ORa 3,4 IC95% 2,0 - 6,0) foi associada a resultados desfavoráveis do tratamento. Conclusão: As UBS que atenderam menos de 20 pacientes, as clínicas que atenderam entre três e nove pacientes, e os hospitais que atenderam menos de 10 pacientes nos 3 anos tiveram mais chance de sucesso do tratamento da TB. Em geral, tratar menos de 50 pacientes num período de 3 anos se associou com sucesso do tratamento da TB no Brasil. Em geral a DOTS se associou com sucesso no tratamento da TB nas UBS e Clínicas e o HIV positivo se associou com óbito. Na Colômbia, 50,1% dos pacientes com RR-TB que iniciaram o tratamento entre janeiro de 2013 e dezembro de 2015 apresentaram resultados desfavoráveis ao tratamento e 19,7% morreram durante o tratamento. Essa alta taxa de desfechos desfavoráveis do tratamento foi associada à afiliação ao regime de saúde subsidiado e idade ≥ 60 anos.