A Geografia Física Crítica como estratégia pedagógica para a inclusão escolar
Ensino de Geografia, Educação para Equidade, Geografia Escolar e Neurociência.
A Geografia Escolar muitas vezes ainda apresenta uma dicotomia entre a Geografia Física e a Geografia Humana, além de carecer de temas contemporâneos voltados para a inclusão e a diversidade. Consideramos a inclusão escolar para além das deficiências, envolvendo aspectos que muitas vezes são motivos de segregação e reprodução de preconceitos em sala de aula, como as questões socioeconômicas, culturais, étnico, raciais, de gênero, orientação sexual e religiosa. Embora exista uma ampla legislação que regulamente a inserção destes temas, já na formação inicial docente, ainda parece faltar debate teórico e aplicação prática para os docentes que atuam no Ensino Básico, tal situação pode estar relacionada a existência de um padrão de normalidade socialmente imposto e falta de acesso aos debates sobre as temáticas. Desse modo, a pesquisa teve como objetivo compreender como se dá a abordagem da inclusão e da diversidade na formação inicial em Geografia, na produção científica e na prática docente na Geografia Escolar. Para entender e discutir a formação inicial docente em Geografia no estado da Bahia, partimos da análise dos currículos dos cursos de licenciatura à luz da legislação vigente sobre as temáticas. A produção científica foi analisada de acordo com o cenário nacional das discussões de inclusão e diversidade na Geografia Escolar, através de publicações em revistas científicas dedicadas à área de Geografia e Ensino. A prática docente foi elaborada e desenvolvida a partir da abordagem da Geografia Física Crítica (GFC) como possibilidades pedagógicas de superação da dicotomia no ensino de Geografia com a elaboração de recursos didáticos relacionados ao contexto dos estudantes, considerando as suas especificidades culturais, sociais e econômicas. Portanto, partindo da realidade de Salvador (Bahia), que possui quase metade da população vivendo em áreas de risco a deslizamento, enxurradas e alagamentos, elegemos o conceito “risco” como tema gerador. Foi possível identificar que os currículos da formação inicial do docente em Geografia na Bahia são constituídos apartados das temáticas pesquisadas, que as produções acadêmicas sobre a temática possuem pouca expressividade no cenário nacional se comparadas a outras propostas, há uma propensão à escolha de alguma deficiência e área da Geografia específicas ao lidarem com o assunto, além de um ensino de Geografia dicotômico e apartado da realidade do estudante. Foi possível também, experienciar a GFC como estratégia para a ressignificação das escolhas pedagógicas capazes de promover a diversidade, reconhecendo e valorizando as especificidades de cada contexto escolar, bem como as origens dos seus estudantes, propiciando o desenvolvimento da autonomia do sujeito e da perspectiva crítica do estudante com o espaço em que se encontra. Essa experimentação se deu em uma sala de aula, a partir de observação, intervenção e avaliação crítica da prática docente no ensino de Geografia em uma escola pública de Salvador. Neste sentido a GFC como abordagem na construção de práticas pedagógicas auxiliou na criação de uma análise integradora dos aspectos físicos e humanos bem como, no reconhecimento e compreensão das relações de poder atuantes na sociedade. Diante dos dados levantados compreendemos que a abordagem integradora e inclusiva deve se dar ao longo da formação docente até sua práxis, no ensino básico e superior, para que realmente possamos pensar numa sociedade mais igualitária, papel este que a Geografia deve assumir devido a sua posição de ciência que estuda o espaço e as relações que neste se desenvolvem.