“Cara Amiga,”: a tradução como ferramenta de subversão epistemológica feminista e decolonial em “Une si
longue lettre”, de Mariama Bâ
Tradução decolonial. Tradução feminista. Romance epistolar senegalês. Mariama Bâ.
Dentre as discussões teóricas contemporâneas no campo da tradução, que levam em conta sua dimensão política e que não a consideram uma atividade de mediação desinteressada e desconectada de ideologias, algumas aventam sobre o papel da tradução no processo de colonização; e reconhecem, em contrapartida, a potência do seu uso na transformação das epistemologias dominantes, que resiste e subverte tal processo. No presente trabalho, procura-se investigar estes eventos por meio da discussão de possibilidades na tradução de Une si longue lettre, da escritora senegalesa Mariama Bâ (1929-1981). A partir da tradução ainda inédita em língua portuguesa da obra de Bâ, discute-se sobre o que move as escolhas para a tradução – as orientações teóricas das quais se serve – e o que se move através delas – o que as tais escolhas podem agenciar na cultura de chegada –, em busca de estratégias tradutórias feministas e decolonialistas; além de serem compartilhadas reflexões sobre o processo tradutório e seus percalços. Em meio à trama de (re)escritura do texto em língua portuguesa, constatou-se que, através da construção de significados no texto traduzido que problematizem as estruturas de autoridade e promovam na cultura de chegada um pensamento divergente daquele estabelecido pela ordem hegemônica, há, sim, a possibilidade de se construir uma tradução ética político-criativa. Esse trabalho pretende contribuir com as áreas da tradução decolonial, feminista e de linguagem inclusiva.