DO ESVAZIAMENTO AO ABSOLUTO:
uma tomada sobre o sublime cinematográfico
Cinema; Estética; Sublime; Vazio; Absoluto
Em alguns filmes parece que nada acontece. Este conflito com o cinema de massas é um esforço propositado de realizadores para alcançar a imponderabilidade do que acossa suas personagens e os mundos criados. O imponderável não está ao alcance do figurativo, senão deixaria de ser dotado desta característica de inefabilidade. Assim, o “nada acontece” é uma escolha estilística de esvaziamento para amplificação dos sentidos estéticos da película. O filme percebe um mundo para além de sua primeira camada sensorial. O esvaziamento de que falamos remete ao nada de Bergson que compreendia haver mais na ideia de vazio que na ideia de existência, uma vez que na primeira inclui-se a segunda mais a sua negação. Contudo, a escolha estilística pelo esvaziamento vai além da sugestionabilidade: ela estabelece a presença daquela imponderabilidade impossível de ser figurada. O esvaziamento estilístico realiza, então, um corte ideológico, apresentando ideias inefáveis que não competem ao entendimento analítico, mas à intuição. Esta última é o campo da afecção cinematográfica, a máquina criadora de cosmos que não apenas percebe como sente os percalços do novo mundo. Estas ideias são presentificadas neste imediato absoluto, isto é, neste imediato que aglutina o passado e o presente num futuro que se constrói. O absoluto é a seiva vital de uma duração em mutação enquanto vive, lançada em sua liberdade. Concluímos que o sublime é o sentimento de presença da ideia imponderável, sendo esta absoluta.