O DESAPARECIMENTO DE VITOR PARA O TDAH: A PRESCRIÇÃO E O USO DE PSICOFÁRMACOS POR UMA CRIANÇA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA EM ITAPARICA – BA
Medicalização; Educação Inclusiva; Psicofármacos.
Introdução: durante o período que corresponde à Educação Infantil e ao Ensino Fundamental I, dificuldades na aquisição da escrita ou aspectos relacionados ao comportamento em sala de aula podem configurar sinais de alerta para o desenvolvimento das crianças. Investigações e avaliações compõem a instauração de um processo que pode ser conduzido por profissionais de áreas cada vez mais especializadas no desenvolvimento humano. Nesse momento, uma direção conduzida pelo imediatismo junto à centralização do discurso médico, pode resultar no processo conhecido por medicalização. Objetivos: este estudo teve como objetivo geral analisar a indicação e o uso de psicofármacos por uma criança com queixas escolares atendida no Centro de Atendimento Educacional Especializado (CAEE) do município de Itaparica – BA. Mais especificamente, objetivamos: a) analisar as queixas escolares referentes à criança que utilizava psicofármacos; b) investigar o seu processo de diagnóstico e de prescrição de psicofármacos; e c) compreender os efeitos do uso de psicofármacos para o seu processo de escolarização. Materiais e Métodos: trata-se de um estudo de caso de uma criança de 10 anos, matriculada no AEE, que fazia uso de diversos medicamentos. O estudo foi conduzido por meio de entrevistas semiestruturadas realizadas com a criança, sua responsável, sua professora, os profissionais de psicologia e psicopedagogia que a acompanhavam, além da médica responsável por prescrever os medicamentos. As informações produzidas por meio das entrevistas foram analisadas e interpretadas em uma perspectiva discursiva, com o referencial teórico sobre fracasso escolar e medicalização, propostos principalmente por Maria Helena Souza Patto e Maria Aparecida Affonso Moysés, além dos estudos produzidos pelo Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade. Resultados e Discussão: As principais queixas destinadas à Vitor, referiam-se à agitação e dificuldade de concentração. Desde os 6 anos de idade, Vitor recebeu prescrições de medicamentos como “Ritalina”, “Risperidona” e “Neuleptil” para melhorar seu comportamento e seu aprendizado, o que não ocorreu. Na tentativa de conter seus comportamentos, Vitor passou por trocas de medicamentos e posologias, comportamentos como de agitação foram substituídos por outros (tiques). A partir do caso, percebemos a responsabilização de crianças e familiares pelo fracasso escolar sustentada em discursos e teorias organicistas e medicalizantes, descolados dos aspectos subjetivos e históricos. Conclusão: O caso de Vitor nos possibilitou observar que o uso de fármacos teve como principal função deixar de tensionar a ordem imposta e controlar os corpos indesejáveis no ambiente escolar. Este estudo nos possibilitou observar que diagnósticos e psicofármacos podem, a nosso ver, representar justificativa para a ausência de responsabilidade política com o fracasso escolar.