Fadiga vocal em professores durante ensino remoto e retorno às aulas presenciais no contexto da pandemia por COVID-19
Voz, Fadiga, Docente, COVID-19, Saúde Ocupacional
Introdução: a profissão docente carrega a responsabilidade da transmissão de conhecimentos para que alunos(as) tenham uma formação adequada. Para isso, o professor se submete a longas jornadas de trabalho, onde lhe é exigido uma alta demanda vocal. Como resultado, pode apresentar queixas como rouquidão, garganta seca e fadiga após uso prolongado da voz, ocasionando um distúrbio de voz relacionado ao trabalho (DVRT). Na pandemia do coronavírus, o trabalho docente sofreu mudanças repentinas para dar continuidade ao processo de ensino-aprendizagem, sendo necessário adequar o modelo de ensino remoto emergencial (ERE) ao ambiente doméstico, nem sempre apropriado para ministrar aulas. Com o retorno ao ensino presencial (REP), houve um maior distanciamento entre alunos e uso de máscara facial como medida de proteção contra a COVID-19. Objetivo: investigar o índice de fadiga vocal em professores da rede básica de ensino durante o ERE e no REP. Método: trata-se de estudo transversal com componente longitudinal, exploratório, prospectivo e multicêntrico, realizado por meio de inquérito online para avaliar as mudanças ocorridas no cotidiano de trabalho docente durante a pandemia do coronavírus. Os instrumentos utilizados foram: questionário elaborado pela equipe com dados sociodemográficos, condições de ambiente, saúde e trabalho, baseado no protocolo Condições de Produção Vocal do Professor (CPV-P); e Índice de Fadiga Vocal (IFV). Os professores responderam ao inquérito online via web, no período de fevereiro a julho de 2021 a abril a setembro de 2022. A análise descritiva dos dados foi realizada por meio do programa STATA 13.0. Resultados: participaram do estudo no ERE 263 professores dos municípios de Belo Horizonte Campinas, Salvador e São Paulo, com idades entre 24 e 45 anos, gênero feminino. Nesse período, 38,02% relataram ter um lugar adaptado para ministrar as aulas online, porém sem conforto (57,79%) e autorreferência de alteração vocal há 1 ano ou a mais (58,17%). O tempo de alteração teve associação estatisticamente significativa com a fadiga vocal (p-valor 0,0001). No REP 69,57% referiram autopercepção de esforço vocal durante o uso de máscara e o uso de máscara teve associação estatisticamente significante com autopercepção de fadiga vocal. Os escores total do IFV no ERE e no REP, sinalizaram autopercepção de fadiga vocal (FV). Conclusão: os professores relataram condições de trabalho desfavoráveis e estresse durante o ERE, com o tempo de alteração vocal associado ao surgimento ou manutenção da FV. O uso de máscara facial no REP contribuiu para o aumento do esforço vocal e também revelou associação com fadiga vocal.