(Afro)Perspectivando o cuidado em saúde: A escrevivência como uma ferramenta
contra-hegemônica
escrevivência; cuidado; saúde
Este projeto de pesquisa tem como objetivo construir uma proposta metodológica para o
agenciamento de povos que foram violentados e continuam a ser pelo sistema de
colonialismo. Compreendemos que a escrita é uma das vias possíveis para a re-centralização
de povos vulnerabilizados pelo sistema de opressão racial, capitalista, machista e capacitista.
Se para a cosmovisão europeia, a diferença marca a existência de um Outro, para a
cosmopercepção africana e dos povos originários da terra, somos parte do todo. Partindo de
inquietações e desajustamentos atravessados pelas vulnerabilidades estruturalmente impostas,
este trabalho surge como uma proposta de protagonismo daqueles que foram/são
invisibilizados. A escrevivência é a metodologia escolhida e tem como objetivo “dar uma
rasteira” no sistema colonial e subverter a objetificação de pessoas negras. A escrevivência é
um método literário, desenvolvido por Conceição Evaristo (2020 p.11), que busca “a voz, a
fala de quem conta, para se misturar à minha”. Essa é uma pesquisa qualitativa exploratória
que adota a escrevivência - de uma mulher negra, no espectro da neurodiversidade, parte da
população de terreiro e pesquisadora no Programa Profissional em Psicologia da Saúde do
Instituto Multidisciplinar em Saúde (IMS/ UFBA)- para a construção de uma estratégia
metodológica em que a escrita e vivência são orientadoras para cuidado da saúde. A
escrevivência se relaciona intimamente com a proposta epistemológica e prática da
afroperspectividade, cosmopercepção desenvolvida pelo filósofo Renato Noguera, inspirada
no quilombismo de Abdias Nascimento, no perspectivismo ameríndio, de Tânia Lima e
Eduardo Castro e na afrocentricidade, de Molefi Asante. Desta maneira, o nosso objetivo é
confluir escrita e vivência, como nos ensina Conceição Evaristo, em busca do cuidado em
saúde. Axé!