PARINDO UM NOVO MUNDO: A PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO DAS MÃES DE VÍTIMAS DA VIOLÊNCIA LETAL DO ESTADO
mulher negra; maternidade; produção de conhecimento; movimento de mães; violência de Estado.
A presente dissertação responde a inquietações e questões da minha trajetória de vida e acadêmica. A pesquisa abarca a compreensão de mães e familiares de vítimas da violência letal do Estado enquanto produtoras de conhecimento, a partir de seu local de fala, suas estratégias de luta e seus saberes. Tem como objetivos específicos: a) discutir a construção da raça, gênero e maternidade na formação sócio-histórica brasileira; b) apresentar dados dos territórios de violência letal do Estado brasileiro; e c) apresentar levantamento do material publicado pelo movimento de mães enlutadas acerca do processo de luto, luta e auto-organização. O percurso metodológico será guiado pelo materialismo histórico-dialético em diálogo com o feminismo negro, utilizando-se das principais técnicas de pesquisa a saber: análise bibliográficos, e análise de documentos, privilegiando o que as feministas negras produziram sobre o assunto, e principalmente o que as mães têm a nos dizer. A análise de conteúdo foi a técnica escolhida para analisar o corpus da pesquisa. Está dissertação discute na seção 2 Raça e Gênero na Formação Sócio-histórica Brasileira as questões de raça e gênero como fundamentais para compreensão do Brasil contemporâneo, explorando o impacto do racismo na experiência da maternidade negra. Na seção 3 Maternidades Interrompidas: a auto-organização e a intelectualidade como estratégia de luta contra à violência letal de Estado abordaremos a guerra às drogas como uma guerra a população pobre e negra, e a violência nos territórios de favela do Brasil, apresentaremos também o resultado da pesquisa. O número alarmante e crescente de jovens assassinados pela violência direta do Estado brasileiro, situa a Bahia como o terceiro estado que mais mata. Afeta não apenas o corpo que tomba no chão, afeta também famílias e comunidades inteiras. Consideramos aqui, o assassinato sistêmico de jovens negros, como uma nova expressão da política de embranquecimento do Estado Brasileiro que, ao contrário do que defende a ideologia hegemônica, não ficou no século XX, e vem se aperfeiçoando e atualizando as suas tecnologias de opressão. O resultado da pesquisa apontou para a subversão da lógica academicista a partir das publicações próprias do movimento, a qual a produção do conhecimento é mediada pela própria experiência de dor compartilhada entre as ativistaspesquisadoras.