“OU SEJA, O LIXO VAI FALAR, E NUMA BOA” - QUESTÃO SOCIAL E RACISMO: UM ESTUDO NA PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO DE ASSISTENTES SOCIAIS NEGRAS ANTIRRACISTAS NA CONTEMPORANEIDADE
Questão social – Racismo. Formação social brasileira. Produção do conhecimento. Serviço Social.
Este estudo tem por objetivo refletir sobre o debate em torno da questão social e racismo, com base na formação sócio-histórica brasileira, a partir das contribuições desenvolvidas por assistentes sociais negras no Serviço Social brasileiro. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica e documental, de natureza qualitativa e caráter exploratório. A investigação foi conduzida sob os fundamentos do método marxista e da interseccionalidade, utilizados como ferramentas de análise crítica dos sistemas de exploração e opressão que se inter-relacionam e conformam as desigualdades sociorraciais no Brasil. Como método de análise dos dados, utilizou-se a Análise Crítica do Discurso (ACD), na perspectiva de Teun A. van Dijk. A pesquisa documental concentrou-se nos relatórios produzidos pelos Grupos Temáticos de Pesquisa (GTPs) “Trabalho, Questão Social e Serviço Social” e “Serviço Social, Relações de Exploração/Opressão de Gênero, Feminismos, Raça/Etnia e Sexualidades”; no documento “Subsídios para o debate sobre a questão étnico-racial na formação em Serviço Social”, da ABEPSS; no currículo Lattes das intelectuais negras que publicaram sobre o tema; além de fontes digitais como o podcast Práxis Preta. O caminho metodológico adotado percorreu as seguintes etapas: a) revisão bibliográfica em fontes secundárias, livros, coletâneas e artigos acadêmicos, em formato físico e digital, acessados por meio de plataformas como SciELO e Google Acadêmico, priorizando o pensamento intelectual negro na compreensão da formação social brasileira; b) levantamento bibliográfico das produções intelectuais sobre a questão social e a questão racial no campo da pós-graduação em Serviço Social, por meio do Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES, no período de 2010 a 2023; c) levantamento bibliográfico em 26 revistas da área do Serviço Social, reconhecidas pela base de periódicos da CAPES, entre os anos de 2010 e 2023, do qual foram selecionados 15 artigos relacionados ao objeto de estudo; d) leitura e seleção de conteúdos relativos à trajetória acadêmica das intelectuais negras nos respectivos currículos Lattes, complementados por entrevistas concedidas ao podcast Práxis Preta.. Os resultados obtidos apontam que a discussão sobre a questão social e racismo está presente na produção de conhecimento do Serviço Social. No entanto, essa produção ainda permanece invisibilizada no processo de formação profissional, embora seja imprescindível para os fundamentos que norteiam a formação e o trabalho profissional de assistentes sociais. As conclusões desta investigação apontam para o Serviço Social brasileiro adotar ações antirracistas não apenas no atendimento da população usuária dos serviços nos diferentes espaços sócio-ocupacionais, onde se realiza o trabalho profissional, mas também internamente, no âmbito da profissão. Nesse sentido, as entidades representativas — como o conjunto CFESSCRESS, a ABEPSS e a ENESSO — devem atuar como bússolas orientadoras no acompanhamento e na efetiva incorporação do antirracismo e seus fundamentos no fortalecimento da produção de conhecimento em Serviço Social comprometida com o enfrentamento do racismo em defesa do projeto ético-político profissional.