Banca de DEFESA: LUCAS SANTOS ARGOLO

Uma banca de DEFESA de DOUTORADO foi cadastrada pelo programa.
DISCENTE : LUCAS SANTOS ARGOLO
DATA : 23/07/2025
HORA: 14:00
LOCAL: online
TÍTULO:

Enativismo e as contribuições para os modelos de mente em psiquiatria


PALAVRAS-CHAVES:

Enativismo; filosofia da mente; psiquiatria; ansiedade; ansiedade patológica


PÁGINAS: 290
RESUMO:

O problema mente-corpo é inevitável e onipresente na psiquiatria, porém pouco abordado. O enativismo é uma recente teoria da mente que, através de princípios da teoria dos sistemas dinâmicos, modela sistemas cognitivos por sistemas biológicos e busca explicar atividade mental como propriedade emergente do acoplamento sistêmico entre organismo e ambiente. Esta pesquisa visa esclarecer se os avanços enativistas fornecem bases de plataforma teórica adequada para uma abordagem emergentista da mente aplicada à psiquiatria, estudando o caso da ansiedade. No primeiro capítulo, a ansiedade é explorada como uma manifestação emocional básica que prepara o organismo para responder a ameaças iminentes. A ansiedade ocorre em um contínuo de respostas a ameaças, similar às reações de medo em modelos animais, mas se distingue devido às capacidades cognitivas superiores requeridas, que não são encontradas em outros animais. É estudada sob várias tradições de pesquisa, incluindo abordagens neurobiológicas, comportamentais e avaliativas, e é considerada crucial para a adaptação, ajudando na antecipação de ameaças. A patologia da ansiedade é definida por critérios como persistência, intensidade e impacto negativo nas funções sociais e ocupacionais, tornando-a uma condição de significativo impacto social. O segundo capítulo discute aspectos mais filosóficos associados à abordagem da ansiedade pela psiquiatria, apresentando o problema da integração e a proposta de solução pelo enativismo. Localizamos a “lacuna explicativa” mente-corpo dentro da abordagem de níveis em psiquiatria em que a ansiedade é abordada pelos níveis psicológico x biológico. A heterogeneidade disciplinar da psiquiatria é exposta e a fissura integrativa da lacuna explicativa é localizada dentro da própria disciplina. Esse problema integrativo é abordado pela perspectiva do diálogo interdisciplinar e a lacuna explicativa mente-corpo é entendida como o ponto em que o diálogo interdisciplinar se rompe e requer a invenção de uma nova abordagem que reformule os termos do problema. O enativismo é apresentado como essa “novidade” que permitirá reformular os termos do problema mente-corpo e ajudar na integração entre fenomenologia e neurociência na abordagem da ansiedade pela psiquiatria. No terceiro capítulo apresentamos as bases filosóficas do modelo biomédico aplicado à ansiedade e o identificamos com o fisicalismo reducionista. A pretensão eliminativista deste modelo quanto ao fenômeno mental é exposta e tal atitude eliminativista é contrastada com a abordagem da psiquiatria. É argumentado que psiquiatria e modelo biomédico aplicados à ansiedade apresentam estratégias opostas: Modelo biomédico abstrai os domínios psicológico e social para definir os problemas de saúde por variáveis biológicas; psiquiatria define os transtornos de ansiedade nos domínios psicológico e social, sem apresentar nenhuma variável biológica definidora. As falhas do reducionismo são expostas e o fisicalismo não-redutor é apresentado como paradigma dominante das áreas de estudo em torno da ansiedade. No quarto capítulo o estudo do fisicalismo não-redutor em cognição é aprofundado e são identificadas duas estratégias explicativas da relação entre propriedades físicas e mentais: perspectiva descendente e ascendente. A visão padrão científica da ansiedade é identificada com a perspectiva descendente de explicação cognitiva centrada no cérebro. Nesta estratégia a explicação é baseada na noção de realização cognitiva. A noção de realização é estudada pormenorizadamente, suas limitações são expostas. A visão padrão científica parte da noção de “ameaça” e define a ansiedade como parte de um sistema de defesa, realizado no cérebro. Isso se traduz em um compromisso internalista e descontextualizado do fenômeno da ansiedade, e tal atitude é contrastada com a abordagem da psiquiatria que tem claros compromissos com a interatividade e o contexto para a abordagem das pessoas com ansiedade. A abordagem da psiquiatria para com o fenômeno da ansiedade, por fim, é dissociada do modelo biomédico e da visão padrão científica, abrindo caminho para a perspectiva ascendente apresentada no quinto capítulo. No quinto capítulo a perspectiva ascendente do fisicalismo não-redutor é apresentada. Nessa estratégia a noção de emergência assume o papel explicativo entre propriedades físicas e mentais. Essa noção é apresentada nos termos da abordagem enativa em que a base física é o sistema acoplado cérebro-corpo-ambiente, e o fenômeno cognitivo é fenômeno emergente. O emergentismo é elaborado para um nível clínico, e é argumentado que a psiquiatria tem um compromisso emergentista. A interação do indivíduo em seu meio é também identificada na abordagem da ansiedade pela psiquiatria, e é argumentado que a interatividade é considerada aspecto constitutivo do fenômeno da ansiedade. Os compromissos interativos e contextualizados do fenômeno mental abordados na perspectiva enativa são alinhados com os compromissos da psiquiatria na abordagem da ansiedade. No sexto capítulo o enativismo é apresentado e os aspectos mais importantes para a abordagem da ansiedade pela psiquiatria são realçados. O capítulo prepara uma elaboração de determinados conceitos que serão utilizados no capítulo seguinte da explicação enativa de ansiedade. Neste capítulo a reformulação da lacuna explicativa prometida no capítulo 2 é esclarecida. A abordagem cartesiana da lacuna é abandonada em favor de uma abordagem centrada numa noção dinâmica do corpo, em seus processos de vida. O capítulo sete apresenta uma nova proposta de entendimento da ansiedade, baseada na abordagem enativa, e alinhada com os compromissos da prática da psiquiatria. Cumprindo o itinerário da perspectiva ascendente que foca na ação como base de entendimento da cognição, a “ameaça” é refutada em favor do “controle” como noção central do entendimento da ansiedade. Aspectos do controle são explorados em sua utilidade prática na clínica da ansiedade, ao mesmo tempo em que o controle é identificado nos processos de emergência cognitiva enativa. A ansiedade é apresentada como emergência afetiva da necessidade de controle. As consequências desse novo entendimento são apresentadas, delineando um arcabouço teórico mais frutífero que a visão padrão científica para a prática da psiquiatria na abordagem da ansiedade.


MEMBROS DA BANCA:
Presidente - 1418569 - GIOVANNI ROLLA
Interno - 1012853 - LUCA TATEO
Externo à Instituição - JEFERSON HUFFERMANN - UFRGS
Externo à Instituição - MARCO ANTONIO OLIVEIRA DE AZEVEDO
Externo à Instituição - RALPH INGS BANNELL
Notícia cadastrada em: 09/04/2025 10:30
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