DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA EM PLATAFORMAS DIGITAIS: POSSÍVEIS
AFETAÇÕES PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS
Divulgação Científica; Ensino de Ciências; Plataformas Digitais; YouTube.
A comunicação e divulgação científica (DC), enquanto meios de interlocução entre a cultura
científica e a sociedade, ganham distintastecituras diante de ambientessociotécnicos orientados
pela dataficação e performatividade algorítmica. As plataformas digitais, nesse contexto,
modelam novas práticas de DC, demandando uma mediação crítica que supere concepções
instrumentais de transmissão de conteúdo científico. Dentro desse cenário se configura a
pesquisa aqui proposta que busca responder a seguinte questão: de que forma a DC
plataformizada, especialmente aquela transmitida no YouTube, afeta o Ensino das Ciências da
Natureza? Para isso, o objetivo geral da investigação é analisar como a DC vem sendo
performada no YouTube e suas possíveis afetações para o Ensino das Ciências da Natureza.
Nesse sentido, dialogando com as perspectivas paradigmáticas do neomaterialismo e as
interfaces da Cultura Digital, consideramos os métodos digitais de produção, coleta e
sistematização dos dados. Assim, foi realizado o mapeamento dos dados via API do Youtube
construindo uma rede de DC em âmbito nacional. Paralelamente, foram realizadas entrevistas
semiestruturadas com 9 professores de Ciências da Natureza para investigar, qualitativamente,
as afetações da DC plataformizada para o campo. No que tange os aspectos éticos esta pesquisa
foi submetida ao Comitê de Ética, aprovada por meio do Parecer Consubstanciado de no.
5.688.400. Em síntese, a análise evidencia que humanos e não humanos agem no interior das
associações estabelecidas nas plataformas digitais e, por consequência, afetam a DC e o Ensino
de Ciências. Tais afetações se orientam a partir de dimensões materiais nas quais, softwares,
hardwares, interfaces, infraestruturas e affordances moldam a forma como os sujeitos
interagem com o conhecimento científico; dimensões simbólicas, manifestadas na forma como
os conteúdos são planejados, na linguagem utilizada e na estética das produções carregadas de
significados e valores, influenciam a percepção dos estudantes sobre a ciência; a dimensão
social, no que se refere aos espaços de interação que permite a troca de ideias, a colaboração
em projetos e a construção da aprendizagem no sentido da autoria desses estudantes; a dimensão
política, já que as plataformas digitais estão permeadas por relações de poder em suas estruturas
de governança, que autorregulam e controlam as ações permitidas nessas ambiências. E, por
fim, sua dimensão performativa que diz respeito a forma como professores e alunos performam
suas identidades e papéis no processo de ensino e aprendizagem além da influência da
materialidade dos algoritmos no que diz respeito ao sistema de recomendação, que prioriza
conteúdos recentes, relevantes e que geram engajamento. Portanto, os múltiplos campos de
afetação reestruturam o processo de ensino de ciências demandando um olhar crítico por parte
de professores e estudantes, buscando conciliar o potencial democratizador dessas ambiências
com o rigor e a profundidade necessários para a formação científica. E, para que essa interação
ocorra de forma orgânica ao currículo de ciências, é fundamental que os processos de formação
continuada de professores de ciências extrapolem as normativas restritivas de documentos
norteadores, indo além de propostas instrumentais que consideram esses artefatos objetos
neutros, fatuais, formais e universais, mas, fundamentalmente, refletindo sobre os
agenciamentos sociotécnicos estabelecidos por esses não humanos no campo da educação e nos
processos de ensino.