Se tirar o neuro, sobra o que? Uma análise crítica das relações entre o Ensino de Ciências e as Neurociências a partir das contribuições de A. R. Luria.
Neurociência; Ensino de Ciências; Luria; Psicologia Histórico-Cultural
A virada ‘neurocientífica’ no final do século XX marcou o início da fase ideológica do
‘neuro’ em nosso contexto societário. Vários campos, incluindo as Ciências Humanas,
buscaram nos achados sobre o cérebro possíveis contribuições para seus problemas, e dentre
essas áreas, a Educação e o Ensino de Ciências. Desse modo, muitas pesquisas no Ensino de
Ciências foram produzidas visando construir pontes com as Neurociências, mobilizando
conhecimentos e achados ditos neurocientíficos para pensar a formação docente e organizar a
atividade pedagógica. Nesse sentido, essa pesquisa buscou analisar quais as concepções de
Neurociências que são reproduzidas nos trabalhos da área de Ensino de Ciências, assim como
o que as pesquisas chamam por conhecimentos neurocientíficos que podem ser usados para
pensar formação docente e prática pedagógica. Como suporte teórico para a análise dos
trabalhos, buscamos contribuições nas obras do psicólogo e médico soviético A. R. Luria
(1902 – 1977), ancorado no Materialismo Histórico-Dialético e na Psicologia Histórico-
Cultural, para pensar a Neurociência. Essa pesquisa qualitativa consistiu numa revisão
sistemática de literatura e foram analisados 29 trabalhos publicados entre 2012 e 2022 (1 tese
de doutorado, 14 dissertações de mestrado e 14 artigos). Analisamos os trabalhos a partir de
duas categorias: 1- Proposições para a formação e prática docente; 2- Proposições para
escolhas metodológicas. Concluímos que as pesquisas têm reproduzido concepções
equivocadas sobre as Neurociências, sobre o funcionamento do sistema nervoso, além da
reprodução de neuromitos. Ao não debaterem sobre aspectos epistemológicos das
Neurociências, as pesquisas acabam por reproduzir concepções problemáticas sobre indivíduo
e desenvolvimento.