O Serviço Social precisa do Feminismo Negro: Explicando a partir da Interseccionalidade
Palavras-chave: Feminismo negro – Interseccionalidade. Serviço Social.
Este estudo tem como objetivo analisar a relação entre o Serviço Social, o feminismo negro e a interseccionalidade, a fim de compreender como essa categoria analitica tem sido incorporada na produção bibliográfica de assistentes sociais brasileiras, com destaque para os ANAIS do Encontro Nacional de Pesquisadores(as) em Serviço (ENPESS), promovido pela Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS), visando compreender quais as contribuições do feminismo negro para a leitura interseccional das desigualdades sociais e das condições de vida e trabalho das mulheres na produção científica dos ENPESS de 2028 e 2022? E quais as reflexões e críticas do feminismo negro que vão ao encontro dos princípios antissexistas, anticapitalistas e antirracistas fundantes do Projeto Ético Político do Serviço Social brasileiro, na produção científica dos ENPESS de 2028 e 2022?. De natureza qualitativa e bibliográfica, a investigação elegeu como corpus de investigação e análise os Anais, dos anos de 2018 e 2022 — período marcado pela disponibilização digital e pela consolidação de dois marcos da luta antirracista na formação profissional: o lançamento do documento Subsídios para o debate sobre a questão étnico-racial na formação em Serviço Social (2018) e a aprovação da Plataforma Antirracista (2022). O percurso metodológico consistiu no levantamento dos dados na forma de artigos nas bases digitais dos Encontros, hospedado no site da ABEPSS, a partir das palavra- chaves feminismo negro e interseccionalidade e analisado por meio da técnica de análise de conteúdo, A partir do levantamento, foram identificados 1.672 trabalhos aprovados nas duas edições, dos quais apenas 06 atenderam aos critérios estabelecidos para análise. (01 com a palavra-chave feminismo negro, 03 com a palavra chave interseccionalidade e 02 com ambas palavras chaves). A pesquisa partiu da hipótese de que ainda é incipiente a presença do feminismo negro nas publicações da área, o que revela lacunas significativas no enfrentamento das desigualdades estruturais que atravessam o exercício profissional. Por isso, defende-se que o feminismo negro, enquanto matriz teórico- metodológica e política forjada por mulheres negras, permite uma leitura ampliada da questão social brasileira, ao articular de forma indissociável os marcadores de raça, classe, gênero, geração, sexualidade e território. Destaca-se que as mulheres negras, historicamente situadas nos cruzamentos das opressões, constituem parcela significativa das usuárias atendidas nos espaço sócioocupacionais, para as quais as demandas do Serviço Social devem ser direcionadas, bem como a categoria profissional de Asssistentes Sociais é formada majoritariamente por profissionais mulheres negras. Portanto, é imprescindível que as experiências, vozes e saberes das mulheres, de forma interseccional, estejam no centro da análise teórico- metodogica, ético-politica e técnico operrativa da profissão. Incorporar o feminismo negro à formação e à pesquisa em Serviço Social é, assim, um passo estratégico para a construção de um projeto profissional comprometido com a justiça social, a descolonização do conhecimento e a superação das múltiplas formas de opressão. Os resultados deste estudo evidenciam que, a hipotese norteadora está correta e que apesar de existirem produções comprometidas com a luta das mulherees negras no enfrentamento das desigualdades de gênero, raça e classe, sua presença no maior evento da categoria profissional de Servicço Social ainda é restrito.