MORRER MIL MORTES: a ontologia irrealizável de Marielle Franco
Movimento de mulheres negras, racismo, política de morte e luto
O Objetivo da presente pesquisa é entender, através da atuação política e na produção narrativa de coletivos e organizações de mulheres negras brasileiras, quais políticas de luto (BUTLER, 2019) são configuradas em torno da morte da vereadora carioca Marielle Franco. O movimento em direção a essas políticas de enlutamento, buscará, enquanto um dos objetivos específicos, compreender o que elas dizem da posicionalidade negra e queer dentro da democracia brasileira e de suas políticas raciais. Procuro também entender as rupturas que incidem em torno do sentido atribuído à morte inscritas no genocídio negro brasileiro, ao localizar as formas com que a colonização e o racismo conduzem, em seus próprios termos, a nomeação e o agenciamento das mortes negras. Ao fazer isso, busco recuperar os olhares, cosmovisões e movimentos políticos anti-coloniais engendrados pelos movimentos negros e suas matrizes ontoepistemológicas africanas e diaspóricas, que atuam na recusa e ruptura do genocídio como a forma prioritária de significação e condução das mortes. Argumento que os mortos são indispensáveis se queremos entender os percursos da política institucional brasileira, bem como das ações e demandas anti-racistas e anti-LGBTfóbicas da sociedade civil e dos movimentos sociais. Nossa hipótese, em diálogo crítico com o pensamento negro radical, o feminismo negro, a crítica queer of color e a teoria afropessimista, é que a morte de Marielle Franco põe em cheque proposições humanistas de compreensão da existência negra e queer, destacando as complicações ontológicas desse processo específico de subjetivação.