Banca de QUALIFICAÇÃO: GIULIA SOSTER CAMINHA

Uma banca de QUALIFICAÇÃO de DOUTORADO foi cadastrada pelo programa.
DISCENTE : GIULIA SOSTER CAMINHA
DATA : 11/12/2025
HORA: 14:30
LOCAL: Online - plataforma Zoom
TÍTULO:

SOUNDSCAPES: a translinguagem na paisagem linguística sonora de Salvador pelos vendedores  ambulantes 


PALAVRAS-CHAVES:

Linguística Aplicada Crítica; Translinguagem; Paisagens Sonoras; Cartografia; Vendedores Ambulantes; Salvador.


PÁGINAS: 52
RESUMO:

O tema desta tese nasceu durante o período de quarentena da pandemia de COVID-19, quando o silêncio tomou conta das ruas de Salvador e a ausência dos vendedores ambulantes tornou visível o quanto o som é constitutivo da vida urbana. Quando o barulho cotidiano foi substituído por uma quietude estranha, a paisagem linguística sonora da cidade se transformou profundamente. O sumiço dos carros do ovo, das buzinas e das vozes que atravessam a cidade fez emergir a percepção de que o som, assim como a linguagem, é um modo de habitar e produzir o espaço. Nesse contexto pós-pandêmico – ainda marcado por processos de recuperação econômica e social que configuram uma verdadeira sindemia global – este estudo propõe compreender como a linguagem participa da produção do espaço urbano por meio das práticas translíngues e performativas dos vendedores ambulantes (Garcia; Wei, 2014; Canagajarah, 2017; Pennycook, 2006; 2010; 2010b; Pennycook; Otsuji, 2015). Tomar esses sujeitos como locus de pesquisa é reconhecer neles agentes de linguagem que, com suas vozes, gestos, ritmos e estratégias de comunicação constroem sentidos e territorialidades nas múltiplas paisagens sonoras da cidade (Schafer, 2001). A pesquisa dá continuidade a reflexões iniciadas no mestrado (Caminha, 2021), em que investiguei a pixação e o graffiti como práticas de letramentos urbanos. Agora, amplia-se o olhar para o som como dimensão material e simbólica da linguagem. Amparada em autores como Pennycook (2006, 2010, 2015), Moita Lopes (2006) e Canagarajah (2017), esta tese ancora-se na linguística aplicada crítica, articulando também aportes da sociolinguística e da geografia humana (Santos, 1988; 2006; 2007; 2008) para pensar a língua como prática social e o espaço como construção imanente e relacional. Os diálogos com Deleuze e Guattari (1995), Passos, Kastrup e Escóssia (2009) e Rolnik (2011) sustentam a escolha da cartografia como método de pesquisa – uma abordagem que permite acompanhar processos, movimentos e afetos no campo, em vez de fixá-los em representações estáticas. Assim, o percurso metodológico se estrutura a partir do paradigma qualitativo (Denzin; Lincoln, 2006) e da bricolagem de instrumentos como registros sonoros, fotografias analógicas, vídeos, notas de campo e entrevistas com vendedores ambulantes no Centro Histórico de Salvador. Os dados preliminares revelam que as performances linguísticas dos vendedores – seus pregões, entonações, alternância de línguas e ritmos – são uma forma de linguagem que expressam criatividade, resistência e pertencimento. Essas vozes não apenas ecoam pela cidade: elas produzem espaço ao ressoar as contradições e as potências de uma Salvador marcada por temporalidades diversas, pela herança colonial e pelas permanências de uma cultura negra e popular. A fundamentação teórica também se apoia em autores que refletem sobre o cotidiano e o direito à cidade (De Certeau, 2012; Lefebvre, 1991), as dinâmicas do tempo urbano (Santos, 2006) e a dimensão sonora da paisagem (Schafer, 2001). Nesse entrelaçamento de vozes e campos de saber, a multimodalidade surge como um eixo articulador entre a linguagem, corpo e som, permitindo compreender a complexidade das práticas de linguagem que moldam o espaço urbano. Esta pesquisa tem como objetivo central investigar de que modo os vendedores ambulantes contribuem para a produção das paisagens linguísticas sonoras de Salvador, ao analisar seus repertórios linguísticos e as práticas translíngues que emergem nas interações com diferentes públicos. Ao escutar as vozes ambulantes, busca-se reconhecer nelas modos de resistência, criatividade, performance e pertencimento – e, sobretudo, a potência criadora de uma cidade que se faz e se refaz todos os dias pelo som.


MEMBROS DA BANCA:
Presidente - 1372213 - LIVIA MARCIA TIBA RADIS BAPTISTA
Externo à Instituição - FERNANDO ZOLIN VESZ LIMA - UFMT
Externo à Instituição - KANAVILLIL RAJAGOPALAN - UNICAMP
Notícia cadastrada em: 17/11/2025 09:18
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