O LÉXICO NO ENSINO DE PORTUGUÊS LÍNGUA ESTRANGEIRA EM PERSPECTIVA DECOLONIAL
Léxico e Ensino; Ensino de PLE; Decolonialidade; Linguística Aplicada; Material didático.
Em afinação com os avanços da Linguística Aplicada no Brasil e a ascensão dos estudos lexicais, esta dissertação enfoca a importância do aspecto social do léxico nas práticas de linguagem, a partir de uma perspectiva decolonial. É sabido que, no ensino de Português como Língua Estrangeira (PLE), poucos estudos abordaram o tratamento do léxico no que se refere à forma como ele é ensinado, seja nas práticas de ensino, na formação de professores e nos materiais didáticos. As pesquisas já realizadas ainda apontam o léxico como um espaço marginalizado, tratado de forma descontextualizada, com atividades, em sua grande maioria, resumidas a listas de palavras, com enfoque na memorização e no conhecimento sistêmico. Em resposta a esse quadro, a pesquisa da qual resulta esta dissertação analisou, a partir de uma perspectiva decolonial, o tratamento dado ao léxico em unidades didáticas de PLE, com o objetivo de evidenciar seus aspectos didáticos, ideológicos, culturais, discursivos e sociais. Assim, pretendeu-se identificar se o tratamento do léxico nas unidades didáticas acompanha os avanços da sociedade do ponto de vista da pluralidade linguística e dos aspectos sociais da língua. O percurso metodológico consistiu na análise de unidades didáticas de livros didáticos para o ensino de PLE, especificamente na análise de três livros selecionados (Novo Avenida Brasil, Samba e Brasil Intercultural). Tratou-se, portanto, de uma pesquisa documental, de natureza qualitativa-interpretativista, com base na Análise do Discurso Crítico (Fairclough, 2001), sob a ótica da perspectiva decolonial (Oliveira; Candau, 2010; Walsh; Oliveira; Candau, 2018; Mota-Pereira, 2020; 2022; 2024). A pesquisa baseou-se em três categorias: a seleção textual, a prática discursiva e a prática social, a fim de trazer uma reflexão sobre como o material didático aborda as questões relacionadas ao tratamento do léxico, aos sujeitos representados, às representações culturais, à pluralidade linguística do português e aos aspectos decoloniais de raça, gênero e classe social. Para isso, foram feitos recortes para que se pudesse realizar uma análise detalhada sobre cada categoria e tecer considerações críticas sobre eles. Para este estudo, ancorei-me nos construtos teóricos da Linguística Aplicada (Celani, 1998; Cavalcanti, 1986; Moita-Lopes, 2006; Menezes et al., 2009; Tomaselli e Lucena, 2024), da Linguística Aplicada Crítica (Pennycook, 2001; Rajagopalan, 2007), da Decolonialidade (Oliveira; Candau, 2010; Walsh; Oliveira; Candau, 2018; Mota-Pereira, 2020; 2022; 2024) e nos estudos em Lexicologia que versam sobre a interface Léxico e Ensino (Antunes, 2012; Basilio, 2004; Biderman, 2001; Ilari, 2004; Ferraz, 2015; Polguère, 2018). A análise evidenciou que o léxico ainda carece de mais atenção nos livros didáticos de PLE. As unidades didáticas não dão o devido tratamento pedagógico a ele, sendo apresentado, muitas vezes, de modo descontextualizado, repetitivo, estrutural e sistêmico. Além disso, há uma lacuna no que diz respeito às práticas discursivas e sociais, com o apagamento de grupos sociais e realidades brasileiras, além da pouca abordagem da pluralidade linguística e do caráter pluricêntrico da língua portuguesa. Diante disso, a pesquisa apontou para a necessidade de uma nova visão para o ensino de línguas pautada na educação linguística e na perspectiva decolonial, que visa representar grupos minoritarizados e questionar colonialidades, mediante a ressignificação do ensino do léxico implicado com o social, com o objetivo de promover um ensino mais próximo da realidade, autêntico e socialmente engajado.