“Já me perdi, tentando me encontrar”: discursos sobre mulher em textos de mídias sociais
Discursos midiáticos; Mulheres; Feminino e Feminismo; Identidade fragmentada.
Esta pesquisa teve como objetivo analisar como os discursos midiáticos se apropriam de discursos feministas, recontextualizando-as e ressignificando-as para a formulação de novos/outros discursos sobre uma mulher, e identificar as estratégias discursivas relacionadas às relações de poder da mulher que contribuem para a construção dos discursos sobre ela mesma. Caracterizou-se como um estudo analítico interpretativo, que teve como corpus principal o programa “Cartas para Eva”, lançado em 2020, pela Globoplay, a partir de uma carta da apresentadora Angélica para a sua filha Eva como celebração ao Dia Internacional da Mulher, e como corpus secundário algumas propagandas veiculadas pela ONU Mulheres em 2016, com uma campanha intitulada #HeforShe, que visavam a reenergização do papel das mulheres e dos homens nas lutas em prol da igualdade de gênero. Por trazerem em evidência em seus discursos os termos “mulher”, “feminismo”, “feminina” é que esses objetos foram selecionados para a análise. Assim, entendendo o lugar dos Estudos Discursivos e Enunciativos (Michel Pêcheux; Eni P. Orlandi, Émile Benveniste; Eduardo Guimarães) em avanços no Brasil, optamos por dialogar com as teorias no intento de contribuir de forma elucidativa com o objetivo geral e com os objetivos específicos, com ênfase a conceitos como: formações ideológicas, interdiscurso e formação discursiva, memória discursiva, condições de produção etc. Foram mobilizados ainda estudos no campo das teorias feministas com enfoque às interseções entre raça, classe e gênero (bell hooks, Simone de Beauvoir, Djamila Ribeiro, Silvia Federici), para que pudéssemos compreender a trajetória de surgimento e os encaminhamentos dos movimentos, bem como a história do ser mulher, e auxiliar nas análises que serão feitas. Nesse sentido, entrelaçamos discursos presentes no programa Cartas para Eva e na campanha #HeForShe da ONU Mulheres, em que foi possível identificar não apenas a reprodução de demandas históricas do sistema patriarcal como do feminismo, mas também as estratégias discursivas que moldam as representações da mulher na mídia contemporânea. As análises revelam que, embora inseridos em contextos comerciais e de entretenimento, esses discursos desempenham um papel fundamental na disseminação de ideais femininos e feministas, dialogados, ainda que muitas vezes de forma fragmentada e contraditória.