LÓCUS DE ENUNCIAÇÃO, SABERES INTERSECCIONAIS, LETRAMENTOS NEGROS E PEDAGOGIAS OUTRAS NO SUL GLOBAL: SEGUINDO OS CAMINHOS DA BATEKOO
Batekoo; Lócus de Enunciação; Interseccionalidade; Etnografia Digital
Como se sabe, a Linguística Aplicada é um campo que se alimenta das demandas do mundo, nas quais as práticas de linguagem estão implicadas. Nesse sentido, advogamos pela necessidade da compreensão, em termos de linguagens e discursos de um coletivo que surgiu em 2014 e marcou o fortalecimento do Movimento Negro Brasileiro na última década. Diante disso, esta pesquisa investiga as práticas discursivas da Batekoo nas redes sociais, sobretudo no Instagram, com foco no seu lócus de enunciação e nas narrativas de quem adere a esse lócus. Assim, o objetivo deste trabalho é elaborar inteligibilidades sobre a Batekoo a partir dessas materialidades discursivas para compreender, de que forma, na instauração de um lócus de enunciação específico, este grupo elabora sentidos, subjetividades e formas de resistência. Busca-se, neste trabalho, compreender também como a Batekoo reverbera e atualiza os saberes identitários, políticos e estético-corpóreos e interseccionais elaborados pela comunidade negra e sistematizados pelo Movimento Negro Brasileiro. Esta pesquisa justifica-se, portanto, pela necessidade de reforçar a cartografia-outra do conhecimento. Uma cartografia que dê conta desses grupos culturais de empoderamento e reexistência (SOUZA, 2011) situados no Sul Global que vem “reconfigurando a dinâmica das interações e das linguagens como práxis humana” (BAPTISTA, 2021, p. 11). Esta pesquisa se sustenta nos conceitos de lócus de enunciação (BAPTISTA, 2019a; 2019b; 2021a; 2021b; 2025) entendido aqui como um dispositivo discursivo-corpóreo de insurgência e invenção que aponta para o porquê e como sujeitos reivindicam formas próprias de dizer, sentir, saber e ser, no âmbito da colonialidade/modernidade; saberes interseccionais como “ferramenta intelectual e política, identidade coletiva e sensibilidade analítica” (MESQUITA, 2022, p. 231) e o de letramentos negros (FREITAS, 2022) que, além de considerar as práticas de leitura e escrita forjados nas agências negras, encara o corpo como um princípio do saber. A metodologia é qualitativa-interpretativista, com abordagem etnográfica digital. Os resultados apontam que as práticas discursivas da Batekoo desafiam perspectivas hegemônicas e o uso estratégico da linguagem para construir territórios de afetos e resistência. A pesquisa contribui para ampliar os estudos sobre linguagem, raça e sexualidade no contexto do Sul Global, reforçando as potencialidades epistemológicas e políticas de sujeitos historicamente marginalizados.