IDEOLOGIAS DE LINGUAGEM NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: UMA ETNOGRAFIA COM ESTUDANTES GUINEENSES DE LETRAS-LÍNGUA PORTUGUESA, NO BRASIL
Ensino da língua portuguesa. Ideologias de linguagem. Formação de Professores
Este trabalho investiga como as ideologias de linguagem são construídas, negociadas e co-produzidas a partir de valores atribuídos aos usos de linguagem em práticas situadas de estudantes guineenses que estudam português no Brasil. O objetivo principal da pesquisa é analisar e discutir ideologias de linguagem articuladas nas falas de alunos e alunas guineenses que estão estudando português no Brasil, em São Francisco do Conde/BA. Os objetivos específicos são: mostrar quais ideologias de linguagem e de ensino de línguas aparecem nas falas de estudantes guineenses de língua portuguesa, no Brasil; promover uma discussão sobre ideologias de linguagem subjacentes aos processos de formação de professores de Língua portuguesa, no Brasil e na Guiné-Bissau; problematizar perspectivas sócio-históricas e políticas relacionadas ao ensino e aprendizagem do ensino de línguas, visando o avanço nas discussões sobre a formação de professores de Língua portuguesa, na Guiné-Bissau. O estudo é desenvolvido a partir de uma etnografia da linguagem (Garcez; Schulz, 2015; Lucena, 2015; Jung; Silva, 2021) em uma comunidade de estudantes guineenses que estão no Brasil, buscando formação em nível superior para, no futuro, atuarem como professores de português. A discussão está inserida na Linguística Aplicada e em perspectivas da sociolinguística crítica que discute a associação de linguagem à economia política globalizada (Heller, 2010; Heller; Duchenne, 2012; Garcez; Jung, 2021). Com base na triangulação de dados feita a partir da observação participante, diários de campo, análise documental e entrevistas realizadas no campo situado realizo a análise sobre as ideologias subjacentes às falas e ações de participantes ao engajarem-se no uso e aprendizagem do português. Os dados apontam para uma co-construção de ideologias de linguagem relacionadas com a perspectiva grafocêntrica e com o purismo linguístico. Tal construção permite a compreensão da política linguística adotada com base na ideologia dominante na prática educacional no sistema educativo para o ensino de língua portuguesa, na Guiné-Bissau. No entanto, a análise das práticas de linguagem e das falas articuladas por alunos e alunas guineenses que estão estudando português no Brasil mostram que eles/elas resistem, principalmente, à ideologia linguística da norma, associada a perspectiva monolíngue do padrão europeu e à ideologia linguística colonizadora, relacionada ao poder, de modo apagar e desvalorização o uso local de língua portuguesa. As práticas de linguagem e as falas dos/as participantes permitem pensar o português presente na Guiné-Bissau, especificamente na formação de professores/as desse idioma com base nas ideologias de linguagem em (Irvine, Gal, 2000). Os resultados demonstram, portanto, que o entendimento que estudantes guineenses que atuarão como futuros professores têm de seus repertórios linguísticos e variantes do português pode contribuir para uma nova perspectiva do ensino aprendizagem na Guiné-Bissau. Eles/elas demonstram compreender efetividade das práticas comunicativas a partir do uso de recursos linguísticos multimodais e semióticos variados, o que pode favorecer a construção de um modelo do ensino multilíngue favorável a sensíveis demandas sociolinguísticas locais.