Construções participiais e departicipiais na constituição do léxico do português arcaico em sua primeira fase (séculos XII a XIV): estudo descritivo em perspectiva histórica e cognitivo-construcional
Português arcaico. Particípio. Derivação departicipial. Posfixação. Mudança construcional.
É fenômeno conhecido o fato de que alguns processos de formação de palavras em latim e em português selecionam particípios verbais como base para a derivação (por exemplo, o sufixo latino -ia e o sufixo português -ura). Conforme Viaro (2011, p. 247-252), esse tipo de derivação – a derivação deverbal departicipial – teve papel fundamental na constituição histórica do léxico do português, mas o tema ainda carece de estudo sistemático para a fase mais recuada da língua, o período arcaico. Partindo do marco teórico da Linguística Cognitiva (Evans; Green, 2006), da Gramática das Construções (Goldberg, 1995; 2006) e da Morfologia Construcional (Booij, 2010; 2018), debruçar-nos-emos sobre um corpus empírico da primeira fase do português arcaico (séculos XII a XIV, 1175-1385) para investigar lexias derivadas com bases participiais sincrônicas e históricas e os padrões construcionais generalizáveis a partir delas. Buscamos, assim, oferecer um estudo descritivo de seu funcionamento no português arcaico e observar, se aí presentes, mudanças de natureza morfolexical, semântica e morfossintática no comportamento desses padrões em comparação com o sistema latino ou ao longo do eixo temporal selecionado. Consideraremos também as repercussões teóricas de nosso estudo, haja vista que a derivação departicipial se encaixa em fenômeno mais geral, a posfixação ou flexão dentro da derivação (Körtvélyessy; Štekauer, 2018), observada tanto em outras línguas indo-europeias (incluindo as românicas) quanto em línguas de tipologia diversa, e que traz problemas à posição, assumida por algumas teorias morfológicas, de que a derivação e a flexão são discretas, a primeira atuando no léxico e a segunda na gramática.