Narradores da sua própria história: escrita em irmandades negras do Brasil no século XVIII
História Social da Cultura Escrita, Irmandades Negras, Bahia, Século XVIII
Neste trabalho, analisamos a difusão do letramento entre negros em irmandades de pretos no período colonial do Brasil, especificamente na segunda metade do século XVIII, na Capitania da Bahia. Através de uma pesquisa documental, examinamos manuscritos setecentistas que registram a solicitação de membros negros da Irmandade de São Benedito do Convento de São Francisco na Bahia para reformar o Compromisso de sua Irmandade, com o intuito de que se permitisse que homens pretos ocupassem os cargos de escrivão e tesoureiro, funções necessariamente ligadas às habilidades de letramento e tradicionalmente exercidas por brancos, nesse tipo de confraria. A partir de indicações contidas nesse corpus, mapeamos ainda compromissos de irmandades de pretos coetâneas para a realização de uma análise comparativa de como se expressavam essas restrições ou permissões, em cada caso. Nosso objetivo é discutir como um grupo marginalizado numa sociedade escravocrata – os negros – mobilizou-se, desafiando as hierarquias coloniais, para provar sua competência e conquistar o direito a exercer tais funções, assumindo a autonomia de suas associações integralmente. Com essas informações, buscamos contribuir para ampliar o entendimento sociolinguístico sobre a história da cultura escrita no Brasil e sobre a constituição do português brasileiro.