CONSTRUÇÕES COM O VERBO DAR NO PORTUGUÊS ARCAICO: UMA ABORDAGEM BASEADA NA GRAMÁTICA DE CONSTRUÇÕES
Verbo dar; Português arcaico; Abordagem construcional; Polissemia
Neste trabalho, a partir de dados oriundos do Corpus Informatizado do Português Medieval, investiga-se a recorrência e a diversidade das construções com o verbo dar na língua portuguesa, especialmente na fase arcaica, compreendida entre finais do século XII e meados do século XVI. Com base em estudos cognitivo-funcionalistas sobre as construções com o referido verbo, tais como os de Salomão (1990), Gonçalves (2005), Velloso (2007) e Santos (2018), bem como nas premissas da Gramática de Construções Cognitiva, como proposta por Lakoff (1987) e Goldberg (1995, 2006, 2019), da Gramática de Construções Baseada no Uso, de Perek (2015) e Hilpert (2019), e da Gramática de Construções Diacrônica, de Traugott e Trousdale (2013), busca-se descrever como as construções com o verbo dar eram usadas no período arcaico, levando em consideração aspectos formais e semântico-funcionais. Nesta proposta, portanto, une-se a abordagem construcional da gramática ao campo da Linguística Histórica, ampliando as perspectivas tanto do estudo histórico da língua portuguesa quanto da abordagem construcionista aplicada ao português. Defende-se, neste trabalho, que a polissemia do verbo dar não é uma propriedade específica dessse item léxico, mas uma característica que emerge das construções em que o verbo dar está inserido, enfatizando, assim, que o sentido das sentenças não é determinado apenas pelos sentidos individuais dos itens léxicos que as compõem, mas também pelas construções que instanciam as realizações atestadas.