Mulheres Negras na liderança do Culto aos Caboclo gestando uma episteme dos encantados
mulheres negras, epistemologia, gênero, feminismos, caboclo
A ideia do matriarcado como um símbolo da liderança das mulheres nos candomblés tradicionais de Salvador foi explorada inicialmente pela antropóloga estadunidense Ruth Landes (1967) e se tornou, como observa Ferreira (2016), um consenso entre os estudos acadêmicos antropossociológicos. A concepção adotada por Landes parte do entendimento de que as condições que estruturam a subordinação das mulheres na sociedade ocidental estão presentes na organização das religiões de matriz africana, diante disso, a autora toma como parâmetro as experiências de opressão e desvantagem das mulheres brancas na sociedade ocidental para analisar e avaliar a liderança das mulheres negras nos candomblés baianos. Essa forma de conceber o sacerdócio feminino é o que nos leva então, a partir das contribuições teóricas do feminismo negro decolonial, questionar se as religiões de matriz africana têm o gênero como um princípio organizador, sobretudo os candomblés de Caboclo que representavam para Landes “a decadência da gloriosa tradição baiana” (Healey, 1996) por concentrarem nesse período o maior número de homens na liderança. Nesse sentido, trabalhamos com a hipótese de que a abordagem do gênero enquanto uma categoria explicativa da relação de poder entre homens e mulheres produz um apagamento epistêmico das experiências de liderança das mulheres negras nas religiões de matriz africana.