CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DO RIO CAMARAJIPE E PERSPECTIVAS BIOTECNOLÓGICAS DE BIORREMEDIAÇÃO
Bactérias Gram-Negativas; Resistência Antimicrobiana; Água Superficial; Poluição da Água; Saúde Única.
Introdução: A poluição das águas superficiais é um problema em escala mundial devido à eutrofização dos rios por ação antrópica. Grande parte da contribuição para este cenário provém do lançamento de efluentes e ingredientes farmacêuticos e industriais, como antimicrobianos e compostos recalcitrantes, cooperando para o surgimento de bactérias multidroga-resistentes (MDR) e doenças infecciosas. Essa realidade é considerada um problema de saúde pública global, mas, sob a ótica da Saúde Única (one health), é possível diminuir e depurar contaminantes químicos e biológicos. Objetivos: Caracterizar parâmetros físico-químicos e microbiológicos quantitativos e qualitativos em amostras do Rio Camarajipe, na cidade de Salvador, Bahia, além de propor uma solução sustentável para a biorremediação de compostos recalcitrantes presentes no rio. Material e métodos: Foram coletadas quatro amostras em pontos distintos do Rio Camarajipe, nas quais foram avaliados parâmetros físico-químicos e processadas para a contagem de coliformes totais e termotolerantes pelo método de número mais provável. Além disso, foram realizados o isolamento de bastonetes Gram-negativos (BGNs) com nível elevado de resistência a carbapenêmicos, em meios de cultura específicos e a identificação por MALDI-TOF. Por fim, foi realizado o teste de susceptibilidade bacteriana dos isolados obtidos. Ademais, foram realizados testes para o desenvolvimento de um filtro biológico - utilizando um protótipo eletroestimulado contendo carvão ativado e Pseudomonas aeruginosa - para depurar compostos recalcitrantes. Resultados: A revisão sistemática revelou que as maioria das estações de tratamento não consegue combater cepas MDRs dos efluentes após tratamento (19/20). A análise físico-química revelou, juntamente com a pesquisa microbiológica, que o Rio Camarajipe se encontra eutrofizado, atuando também como reservatório de BGNs MDRs (43/47), encontrados em todos os pontos investigados, dentre os quais cepas de Pseudomonas spp. (31/47) e Klebsiella pneumoniae foram as mais frequentes (11/47). Como estratégia biorremediadora, o filtro biológico construído apresentou resultado significativo na redução de azul brilhante de remazol, um composto recalcitrante que pode estar associado à contaminação por efluentes de indústrias têxteis. Considerações finais: O Rio Camarajipe tornou-se fonte de veiculação de contaminantes químicos e biológicos, contribuindo também com a disseminação de cepas de BGNs MDRs. Como alternativa para mitigar o impacto da contaminação química, o filtro biológico desenvolvido é promissor, entretanto, mais ensaios são necessários validar o protótipo construído, como testes de saturação e regeneração da capacidade de absorção do carvão.