SARTRE E A CRÍTICA DA REIFICAÇÃO: CONFLITO SOCIAL E RECONHECIMENTO
Palavras-chave: Teoria do reconhecimento, Conflito social, Honneth, Sartre.
A nossa tese é de que, a partir do pensamento de Jean-Paul Sartre, os conflitos na luta por reconhecimento do outro ser humano não são um meio para um fim, isto é, não há reconciliação ou não há simetria nessa luta. Ao contrário, é pela continuação de um conflito permanente que se pode falar de reconhecimento, mesmo que este não seja simétrico. Isso é o nosso posicionamento geral nesta pesquisa, já o nosso posicionamento específico se reflete no entendimento de que o reconhecimento deve sempre ser assimétrico ou dissimétrico ao invés de algo simétrico. Para nós, é preciso que o reconhecimento recíproco ocorra de maneira assimétrica, senão em uma relação com outro não haveria o reconhecimento da existência desse outro enquanto alteridade. Nossa posição é que, embora muitos vejam a reciprocidade no reconhecimento como necessitando de simetria, nossa tese argumenta que o reconhecimento pode existir sem simetria. Essa é a essência do nosso argumento. Portanto, como a filosofia social de Sartre pode contribuir para os debates contemporâneos sobre o reconhecimento? Tentaremos responder a essa pergunta. Honneth, um dos principais responsáveis pela renovação contemporânea da teoria do reconhecimento, afirmou ter identificado Sartre como o mais importante dos escritores franceses pós-segunda Guerra Mundial. No entanto, ele também professa superar as limitações sartrianas: por um lado, Sartre oferece uma visão parcial do conceito de reconhecimento, vendo o outro como uma reificação; por outro lado, Honneth argumenta que sua teoria aborda o tema de forma mais abrangente. Diante disso, exploraremos como a crítica de Honneth ao pensamento de Sartre pode destacar a relevância contínua de Sartre para uma teoria do reconhecimento. Utilizaremos o trabalho de Sartre como base para analisar a interpretação sartriana de Honneth, demonstrando assim a importância duradoura de Sartre neste campo. A pesquisa iniciará com um relato sobre a proposta de Honneth e da sua leitura interpretativa de Sartre, de modo a enfatizar a maneira como essa interpretação se cruza e difere da abordagem do reconhecimento que Sartre deriva de sua ontologia fenomenológica. Não temos a intenção de fornecer um relato exaustivo dos prós e contras da crítica de Honneth a Sartre. Nosso objetivo é antes mostrar que nossa própria interpretação da filosofia de Sartre pode pavimentar o caminho para a exploração de ideias que poderiam aprimorar os debates atuais sobre o reconhecimento.