Foucault e a psicanálise: do dispositivo de sexualidade às interfaces com a teoria freudiana da sexualidade
dispositivo de sexualidade; psicanálise; Foucault; Freud
Neste trabalho propusemos discutir a hipótese foucaultiana que relaciona o saber psicanalítico e o discurso freudiano sobre a sexualidade enquanto parte de um dispositivo histórico: o dispositivo de sexualidade. Para defender e sustentar nossa discussão buscamos analisar algumas das proposições presentes na teoria da sexualidade psicanalítica relacionando-as com o que Foucault denomina de conjuntos estratégicos de poder-saber, os quais, por definição, constituem o dispositivo de sexualidade. Escolhemos desenvolver nossa pesquisa a partir do exame da noção de dispositivo de sexualidade. Em linhas gerais, Foucault concebe a noção de sexualidade como interações produtivas das relações de poder e saber. Para o autor, em função dessas interações de poder-saber se formariam os conjuntos da pedagogização, da histerização, da psiquiatrização e da socialização, cujas estratégias privilegiam respectivamente, a criança, a mulher, o adulto perverso e o casal reprodutor. Tendo acompanhado a argumentação foucaultiana pretendeu-se, por intermédio dos conjuntos de poder-saber, indicar alguns pontos que permitiriam estabelecer uma problematização sobre a questão do discurso da sexualidade, presente na teoria freudiana, ao relacioná-lo com o dispositivo de sexualidade. Nesse contexto, esta pesquisa procurou evidenciar as possíveis aproximações e os distanciamentos entre ambos, à medida que se considerou os temas por eles compartilhados: a sexualidade infantil, a histeria, as perversões e a procriação. Se, por um lado, esses temas constituem a base das operações dos conjuntos estratégicos de poder-saber, por outro, fazem parte também do arranjo teórico psicanalítico. Coube investigar, portanto, do que se tratam esses conjuntos de poder-saber, segundo Foucault, e ao mesmo tempo examinar as especificidades da abordagem desenvolvida por Freud.