SOB A ÉGIDE DO LÚDICO VALE TUDO? REFLEXÕES SOBRE AS RELAÇÕES ENTRE ALFABETIZAÇÃO E LUDICIDADE PELAS EDUCADORAS DOS MUNICÍPIOS DE ANDARAÍ E WAGNER – BA
Alfabetização. Ludicidade. Situações potencialmente lúdicas. Perspectiva construtivista psicogenética.
Esta pesquisa-ação formação investigou as compreensões das educadoras dos municípios de Andaraí e Wagner, na Bahia, sobre a articulação entre ludicidade e alfabetização, tendo como referência a perspectiva construtivista psicogenética. O estudo partiu da inquietação sobre o uso indiscriminado do termo lúdico para validar práticas pedagógicas que, muitas vezes, mascaram atividades convencionais de ensino. Fundamenta-se nas contribuições de Lopes (2004, 2014, 2018) e Luckesi (2014, 2018) sobre ludicidade e nas reflexões de Ferreiro (1995, 1999, 2004,2011a, 2011b) e Lerner (2002) sobre o ensino da leitura e da escrita. A pesquisa adotou uma abordagem qualitativa, incluindo a análise de programas de formação de professores, observação do contexto educacional, aplicação de questionários e encontros formacionais. Durante o processo, as participantes analisaram diferentes propostas didáticas e construíram critérios para caracterizar situações didáticas potencialmente lúdicas para o ensino da leitura e da escrita. Essas situações foram compreendidas como aquelas que articulam alfabetização e ludicidade de forma intencional, promovendo o envolvimento ativo dos alunos, desafios cognitivos e a construção coletiva do conhecimento. O estudo demonstrou que a ludicidade, quando incorporada de maneira significativa, pode potencializar a aprendizagem, desde que não seja reduzida a um mero recurso motivacional ou decorativo. Inicialmente, as participantes associavam a ludicidade ao prazer e à presença de jogos e brincadeiras. No decorrer do processo formacional, passaram a reconhecer que a ludicidade pode emergir de práticas sociais significativas e do engajamento subjetivo dos estudantes. No entanto, algumas concepções anteriores ainda coexistem com os novos saberes, especialmente na seleção de situações didáticas, onde a presença de elementos lúdicos explícitos ou a chancela institucional permanecem como critérios predominantes. Isso evidencia a necessidade de aprofundamento contínuo na formação docente para consolidar práticas alfabetizadoras mais fundamentadas. A questão central da pesquisa – sob a égide do lúdico, vale tudo? – orientou as reflexões das participantes, levando-as a problematizar suas concepções e revisar suas práticas. Os resultados reafirmam que, na perspectiva construtivista psicogenética, a ludicidade não pode ser um artifício para engajamento, mas deve ser compreendida como um elemento estruturante da aprendizagem, presente em situações didáticas intencionalmente planejadas para favorecer desafios, interações significativas e propósitos comunicativos bem definidos.