AVALIAÇÃO DO PAPEL MEDIADOR DO SOFRIMENTO PSICOLÓGICO NA ASSOCIAÇÃO ENTRE COMER TRANSTORNADO E CONDIÇÕES DO AMBIENTE DE TRABALHO E ESTUDO NA PANDEMIA.
COVID-19, sofrimento psicológico, comer transtornado.
Introdução: O Ensino Remoto Emergencial (ERE) foi implantado durante a pandemia da COVID-19 como forma de contenção da transmissão viral e para possibilitar a continuidade das atividades acadêmicas em ambiente domiciliar, que nem sempre estava adaptado para sediar o trabalho e o estudo. Conjuntamente, o cenário pandêmico e condições inapropriadas para o ERE podem desencadear o adoecimento mental e, na busca pela regulação emocional, favorecer o comer transtornado. Objetivo: Avaliar se o sofrimento psicológico atua como mediador na associação entre as condições físicas e materiais de trabalho e estudo durante a pandemia e o comer transtornado de docentes e discentes universitários brasileiros. Métodos: O estudo é um recorte transversal dos dados da linha de base da Coorte Online do Comportamento Alimentar e Saúde (COCASa), abrangendo docentes e discentes das IES brasileiras. A coleta de dados ocorreu de forma online, com autorrelato de dados sociodemográficos. Informações sobre a condição de trabalho e estudo foram obtidas por meio de questões sobre ter ou não estrutura física e equipamentos para o bom desempenho do ERE nos lares. O comer transtornado foi avaliado pela escala de Hay (1998) e para estimar o sofrimento psicológico utilizou-se a escala DASS-21. A técnica de Modelagem de Equação Estrutural (SEM) foi utilizada para analisar a associação entre as variáveis. Resultados: A amostra foi composta majoritariamente por mulheres (72,8%), com menos de 27 anos (76,5%), da região Nordeste (47%) e com renda de até 3 mil reais (57,7%). Cerca de 40,8% dos participantes relataram ter experienciado episódios de compulsão alimentar, e os sintomas de depressão, ansiedade e estresse, foram majoritariamente de grau normal a mínimo. A análise da SEM mostrou associações positivas e significativas entre “Condições do Ambiente de Trabalho e Estudo” com o “Sofrimento Psicológico” (β:0.295; p<.001) e com o “Comer Transtornado” (β: 0.123; p<.001), bem como entre “Sofrimento Psicológico” e “Comer Transtornado” (β: 0.513; p<.001). O papel mediador do "Sofrimento Psicológico" (β:0.151; p <.001) foi observado na relação entre as “Condições do Ambiente de Trabalho e Estudo” e “Comer Transtornado”. Associações positivas foram mantidas quando a análise foi estratificada entre docentes e discentes. Conclusão: Os resultados observados neste estudo evidenciaram que, durante a pandemia de COVID-19, as piores condições do ambiente de trabalho e estudo contribuíram para o aumento do sofrimento psicológico, levando ao desencadeamento de comportamentos alimentares transtornados, tanto em docentes quanto em discentes universitários.