Pranic Healing como intervenção complementar para Transtorno Mental Comum em mulheres que vivenciaram violência conjugal: estudo piloto de ensaio randomizado.
Violência Contra Mulher; Cuidado; Práticas Integrativas e Complementares; Enfermagem; Pranic Healing.
A violência conjugal configura-se como um grave problema de saúde pública, tendo em vista seus impactos diretos na produtividade econômica do país e os elevados custos decorrentes das demandas geradas por esse agravo, especialmente no que se refere aos danos à saúde mental, como ansiedade, depressão e, em casos mais extremos, suicídio. Diante desse cenário, torna-se urgente a implementação de estratégias voltadas ao cuidado em saúde mental de mulheres em situação de violência, sendo a Pranic Healing, enquanto prática integrativa e complementar, uma possível abordagem de cuidado às mulheres com história de violência. Objetivo: Testar a efetividade da Pranic Healing sobre o nível de Transtorno Mental Comum em Mulheres que experienciaram violência conjugal. Método: Trata-se de um estudo quantitativo, com delineamento do tipo Ensaio Clínico Randomizado (ECR), piloto, duplo-cego. O projeto foi desenvolvido no âmbito do Batalhão de Policiamento de Proteção à Mulher (BPPM), da Polícia Militar do Estado da Bahia (PMBA). As participantes foram mulheres acompanhadas e indicadas por profissionais atuantes no BPPM. A estratégia de aproximação com essas mulheres ocorreu por meio do telemonitoramento realizado pelo Projeto “Vid@ na Covid”, cujo o objetivo foi desenvolver um modelo de cuidado multiprofissional voltado a pessoas com histórico de violência conjugal em contextos de distanciamento social. Os critérios de inclusão adotados foram: relatar histórico de violência conjugal; ter 18 anos ou mais; não estar em tratamento com outras práticas integrativas e complementares em saúde (PICS); e apresentar pontuação ≥ 7 na escala SRQ-20, instrumento utilizado pelos integrantes do projeto diagnóstico para identificação de Transtorno Mental Comum (TMC). Como critério de descontinuidade, foram excluídas da intervenção as participantes que, sem justificativa, se ausentaram em três sessões consecutivas e/ou deixaram de comparecer a pelo menos 20% das quatro sessões previstas, percentual mínimo recomendado em protocolos para avaliação da efetividade da técnica. Resultado: O estudo contou com a participação de 17 mulheres, distribuídas entre o grupo intervenção (GI), com 10 participantes, e o grupo controle (GC), com 7. A análise dos escores SRQ-20 revelou uma redução nos níveis de Transtorno Mental Comum (TMC) em ambos os grupos, com destaque para o GI, que apresentou uma melhora de 70%, enquanto o GC obteve uma redução de 57%, indicando um efeito adicional de cerca de 13% atribuído à prática do Pranic Healing. A análise de ANOVA mista evidenciou um efeito médio na diminuição dos níveis de TMC entre os momentos A1 e A2, sugerindo que a intervenção pode ter sido eficaz na redução dos sintomas em mulheres vítimas de violência conjugal. As
participantes tinham entre 29 e 71 anos, sendo a maioria negra (94,12%), com filhos (82,4%), ensino médio completo (47,1%) e vínculo religioso (82,4%); 52,9% faziam uso de bebida alcoólica e 76,5% não utilizavam antidepressivos. No entanto, os testes de hipótese demonstraram que não houve associação estatisticamente significativa entre a resposta à Pranic Healing e variáveis sociodemográficas ou o uso de substâncias lícitas e antidepressivos, indicando que os benefícios observados podem ser atribuídos mais diretamente à intervenção do que a fatores individuais. Considerações finais: O estudo demonstrou que a Pranic Healing tem potencial terapêutico no nível de Transtorno Mental Comum em mulheres com histórico de violência conjugal, independentemente de variáveis sociodemográficas ou uso de substâncias, visto não foram encontradas associação estatisticamente significativa entre as referidas variáveis. Com efeito médio observado, a técnica mostrou-se aplicável a diferentes perfis, mesmo com limitações impostas pela pandemia, que comprometeram a qualidade do espaço privativo necessário para um ambiente silencioso e propício à concentração durante as sessões. Os resultados indicam benefícios emocionais e reforçam a importância de estratégias integrativas no cuidado à saúde mental, de modo a considerar os determinantes sociais e contextuais durante o planejamento do cuidado. Além disso, o estudo destaca a relevância de políticas públicas e de mais pesquisas, com amostras maiores e enfoque longitudinal, para aprofundar o entendimento dos efeitos da Pranic Healing nesse contexto.