Considerações sobre a posição do clínico de linguagem no atendimento de um jovem com diagnóstico de autismo.
Autismo; Terapia da Linguagem; Clínica de Linguagem
Introdução: Ao longo dos últimos anos, inúmeras pesquisas na área da saúde têm colocado o autismo no centro de suas investigações. As discussões sobre o tema levantam controvérsias no que diz respeito ao diagnóstico e tratamento. Há, no entanto, unanimidade quanto ao reconhecimento de dificuldades no campo da linguagem, o que faz surgir uma demanda de tratamento clínico para queixas relacionadas a atrasos na fala, dificuldades de compreensão e no estabelecimento da interação por meio do diálogo. Objetivo: Seguindo a trilha do compromisso da Clínica de Linguagem com o falante e com a imprevisibilidade que permeia as falas sintomáticas, o propósito desta dissertação é refletir sobre a posição do clínico de linguagem frente aos desafios e impasses colocados pelo atendimento de um jovem autista. Método: O relato do atendimento de P. – um menino de 11 anos, com diagnóstico de autismo – é apresentado para encaminhar a pretendida reflexão. Trata-se de um trabalho de abordagem qualitativa e retrospectiva, com uso de dados secundários e adoção do estudo de caso como estratégia metodológica para produção dos dados. Resultados: A problematização desse atendimento revelou que o modo de relação de crianças e jovens com diagnóstico de autismo com a linguagem e com o outro implica para o clínico de linguagem uma posição distinta daquela usualmente ocupada diante de outros falantes com falas sintomáticas. Questões fundamentais para a Clínica de Linguagem foram colocadas a partir do relato empreendido: como abordar a forte resistência de jovens e crianças como P., autistas com dificuldades expressivas no laço social? Como ressignificar a problemática da interpretação, eixo central da Clínica de Linguagem, que carreia o desejo de fazer falar – uma direção que se mostra inviável em tais jovens e crianças? Conclusão: Conclui-se que o acolhimento de sujeitos com diagnóstico de autismos na Clínica de Linguagem pressiona por um raciocínio que inclua considerações sobre a estruturação subjetiva, o que conduz a uma incontornável aproximação à teorização psicanalítica, sem, contudo, obscurecer as diferenças que constituem esses espaços clínicos distintos. Finalmente, assegura-se que a Clínica de Linguagem, pela sua posição teórica frente à função da linguagem na constituição do sujeito, ao ser atravessada por noções de captura e corpo pulsional, se configura como espaço de acolhimento da singularidade das falas sintomáticas no autismo.