Recomendações para Manejo Integrado do Fogo em Unidades de Conservação com Mata Atlântica na Bahia
cienciometria, fogo, incêndio florestal, manejo integrado do fogo, florestas tropicais.
Muitos ecossistemas ao redor do mundo são afetados por incêndios florestais, que representam uma grande ameaça para a saúde humana e afetam o clima global. A importância e os impactos dos incêndios florestais variam entre os ecossistemas, que podem ser dependentes do fogo, se beneficiando dos incêndios para a manutenção de sua biodiversidade e processos ecológicos, ou sensíveis ao fogo. No Brasil, diferentes biomas respondem de formas diferentes à presença do fogo e alguns, como a Floresta Amazônica e a Mata Atlântica, podem ser mais vulneráveis que outros. Por isso, estratégias que podem fazer sentido em biomas dependentes do fogo não são adequadas para biomas sensíveis ao fogo. A Mata atlântica é um ecossistema sensível ao fogo e assim como a maioria das espécies de florestas tropicais, ela não tolera a queima, a qual pode resultar em perda de biodiversidade e em impactos sobre processos e serviços ecossistêmicos.
Por outro lado, o fogo é amplamente reconhecido como uma ferramenta econômica para o manejo da terra, se for bem utilizado. Mesmo assim, durante muito tempo, as políticas de combate e supressão de incêndios florestais impostas pelos governos em muitos países ignoravam as perspectivas e interesses de grupos sociais como povos indígenas e agricultores locais, resultando em conflitos. No entanto, o cenário do manejo do fogo começou a se transformar e esse elemento passou a ser uma estratégia de prevenção ou combate de incêndios catastróficos. Assim, o manejo integrado do fogo ganha destaque por ser uma estratégia de manejo florestal adaptativa, transdisciplinar e que se baseia em reduzir os prejuízos causados pelo fogo e aumentar seus benefícios.
Como a quantidade de pesquisas realizadas sobre esse assunto difere entre países, o primeiro capítulo deste trabalho teve como objetivo identificar como a pesquisa sobre o manejo do fogo se compara entre o Brasil e o Canadá, comparando o número de publicações sobre o manejo do fogo ao longo do tempo, analisando os tipos de estudos e dos principais temas dos estudos e comparando a pesquisa sobre o manejo do fogo entre os diferentes biomas encontrados em nossos países de estudo, através de uma análise bibliométrica. O número de publicações aumentou ao longo do tempo em ambos os países. No Brasil, os temas mais proeminentes foram "política e manejo", enquanto no Canadá, estudos relacionados às mudanças climáticas apareceram com mais frequência. Estudos de diferentes tipos foram bem distribuídos nos biomas do Cerrado e Amazônia. Assim, propomos algumas recomendações para pesquisas futuras sobre o manejo do fogo no Brasil, como dar mais atenção aos biomas que foram sub-representados em nossa revisão, especialmente a Mata Atlântica; estimular tais pesquisas por meio de agências de financiamento, além de iniciativas individuais de pesquisadores; e a pesquisa sobre manejo tradicional do fogo e coprodução com os diferentes interessados envolvidos com esse tema pode fornecer insights importantes sobre as melhores abordagens para o manejo integrado do fogo nos diferentes ecossistemas.
No segundo capítulo, nós buscamos fornecer um embasamento teórico e recomendações para manejo do fogo em áreas protegidas com Mata Atlântica, com foco no estado da Bahia. Áreas protegidas são importantes para estratégia de conservação da vegetação e proteção da área, mas apesar de existem instrumentos legais para embasar sua criação, é preciso de planos e estratégias que envolvam os diferentes stakeholders e a comunidade do entorno. No entanto, no que diz respeito a propriedades privadas, não existe uma estratégia geral de gestão de incêndios. Assim, sugerimos ações embasadas pela literatura científica envolvendo estratégias de prevenção e restauração para serem aplicadas em Unidades de Conservação com Mata Atlântica.