Ensino de Ciências, Desacordos e Autonomia Intelectual
Autonomia; Desacordos; Ensino de Ciências; Filosofia da Química.
Este trabalho tem como objetivo central apresentar a discussão em torno do problema do objetivo do ensino de ciências à luz de uma abordagem epistemológica, com o intuito de verificar como este debate reverbera no ensino de Química. Diante dessa discussão, onde se defendem diferentes teses, argumento a favor da tese que considera que um dos objetivos do ensino de ciências é a formação de um cidadão crítico com autonomia intelectual. Considerou-se um sujeito crítico como aquele que busca discutir as razões envolvidas em uma disputa submetendo-as ao crivo da razão. Aqui, a ação crítico-reflexiva é essencial para a formação de um agente epistêmico responsável. E, nesse sentido, responsabilidade implica em autonomia. Neste trabalho, a autonomia é entendida como virtude ou uma qualidade. Quando considero que um aluno (como agente epistêmico) tem uma virtude, eu quero dizer que ele tem uma disposição a ser motivado de certa maneira e a agir de uma dada forma em circunstâncias relevantes, e, além disso, ele é bem-sucedido em alcançar o fim de seu motivo virtuoso. Para ilustrar a ideia de autonomia, foi utilizado como exemplo um tema central do ensino de Química: o “desacordo” sobre o conceito estrutura molecular. Apresenta-se o problema do desacordo como um tema central do escopo da Epistemologia Social. Cabe enfatizar, que não buscarei formular uma caracterização única de “epistemologia” ou “social.” Meu intuito, é considerar que epistemologia envolve a avaliação de uma perspectiva epistêmica de várias “decisões” ou “escolhas” por agentes epistêmicos, ou, no caso da abordagem sistêmica, a avaliação de sistemas sociais alternativos a partir de uma abordagem epistêmica.Para tanto, foi proposto um cenário em que a reflexão é importante e tem valor epistêmico: o estatuto ontológico da estrutura molecular – redutível ou não redutível a teoria quântica? Frente as visões dos autores, verificou-se que alguns adotam a perspectiva reducionista os quais defendem a reconstrução do conceito dentro da estrutura quântica de átomos em moléculas. Outros, embora reconhecendo a descontinuidade conceitual entre a mecânica quântica e a química molecular, mantêm viva a esperança de redução. De uma posição explicitamente não-reducionista, autores concebem a estrutura molecular como um fenômeno emergente.Nesse cenário, a reflexão foi entendida como uma performance, uma atividade a partir da qual o aluno examina as razões, as provas, o conteúdo envolvido, a confiabilidade das suas próprias crenças e, diante do desacordo proposto, decide o que é epistemicamente confiável acreditar ou não. Vale considerar, que essa é uma perspectiva normativa. Tal perspectiva refere-se a razões prescritivas, ou seja, elas sugerem algo sobre o que poderia ou deveria ser. Trata-se de uma pesquisa teórico-reflexiva, por seu valor e normatividade, baseada na análise e revisão da literatura. Todo o caminho argumentativo desta tese buscou explorar razões para que o objetivo do ensino de ciências contemple algo como a autonomia, que não envolve necessariamente mudança de crença, mas uma atitude ou atividade investigativa do agente.