RAÇA, CIÊNCIA E SAÚDE:
ABORDAGEM DA RACIALIZAÇÃO DA DOENÇA FALCIFORME
PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORAS/ES DE BIOLOGIA
Racialização; Doença falciforme; Racismo Científico; Educação das
relações étnico-raciais; Educação em saúde; Crítica equilibrada da ciência
Nesta pesquisa, partimos da proposta de que a contextualização histórica do racismo
científico, a partir de um enfoque educacional CTSA, possibilita abordar, em sala de aula,
discursos e práticas científicas atuais potencialmente estigmatizantes para determinados
grupos humanos, como acontece com os discursos biomédicos de racialização da doença
falciforme. Argumentamos que, a partir dessa abordagem, é possível promover uma
crítica equilibrada da ciência; a educação das relações étnico raciais; e a educação em
saúde. Enfocamos o caso da doença falciforme, uma hemoglobinopatia, frequentemente
associada a pessoas negras, em sentido biológico, em discursos biomédicos, escolares e
da mídia. A partir do referencial teórico-metodológico da Pesquisa de Design
Educacional, objetivamos, então, validar princípios de planejamento de uma sequência
didática (SD) sobre a racialização da doença falciforme, e a sua relação com o racismo
científico, com o intuito de promover uma abordagem crítica equilibrada da ciência, a
educação das relações étnico-raciais, e a educação em saúde, no contexto da formação
inicial de professoras/es de Biologia. Nessa tese são relatados os resultados de duas fases
desse tipo de pesquisa: a pesquisa preliminar e a fase de prototipagem. Os dois primeiros
capítulos desta tese são teóricos e refletem a primeira fase da pesquisa de Design
Educacional, chamada de pesquisa preliminar. Contudo, devido à natureza cíclica desse
tipo de pesquisa, esses capítulos refletem também os incrementos do quadro teórico
inicial, alcançados em etapas posteriores da pesquisa. No primeiro capítulo, foram
discutidos diferentes usos e significados do conceito de raça na história da ciência e a sua
ressignificação em termos sociais e políticos para abordar o racismo e as iniquidades
raciais na contemporaneidade; a importância de se abordar explicitamente essa polissemia
no ensino de Biologia; e o enfoque da racialização da doença falciforme, para
exemplificar como os discursos raciais sobre a doença, empregados em sentidos distintos,
podem gerar prejuízos às pessoas com doença falciforme ou possibilitar o
reconhecimento de grupos vulneráveis, a partir de uma concepção política do conceito.
No segundo capítulo, foram detalhados seis princípios de planejamento refinados para
guiar a construção de intervenções didáticas sobre a racialização da doença falciforme e
a sua relação com o racismo científico. O terceiro capítulo, de natureza empírica, relatou
dois ciclos de prototipagem, que envolveram a elaboração, a aplicação e a avaliação de
dois protótipos da SD. O primeiro, aplicado em sala de aula, em uma disciplina de
licenciatura em Biologia da UEFS, e o segundo validado por especialistas: professoras/es
pesquisadoras/es da área de ensino de Biologia; pesquisadoras da doença falciforme com
trabalhos na área de Saúde Coletiva; e participantes de organizações sociais de apoio a
pessoas com doença falciforme. Os dados coletados nesses protótipos foram analisados a
partir da Análise Crítica do Discurso, proposta por Norman Fairclough, a partir da
dimensão da prática discursiva, em especial, da intertextualidade, e da prática social. Os
resultados dos dois ciclos de prototipagem indicaram a validação dos seis princípios de
planejamento, contudo com limitações no alcance da abordagem socioecológica da saúde
nos dois protótipos. Os princípios foram refinados e uma nova estrutura da SD foi
apresentada