CONCEPTUALIZAÇÃO/CATEGORIZAÇÃO DO ESTUPRO: UM ESTUDO SÓCIO-HISTÓRICO-COGNITIVO
Linguística Cognitiva. Semântica Cognitiva-Sócio-Histórico-Cultural. Conceptualização. Jornais. Estupro.
A Tese, que ora se apresenta, teve como propósito contribuir para a compreensão de como o ESTUPRO é conceptualizado em textos jornalísticos produzidos entre os séculos XIX e XXI. Para tanto, o estudo teve como fonte de pesquisa o jornal O Estado de São Paulo e buscou: a) discorrer sobre a Teoria dos Modelos Cognitivos Idealizados, Teoria da Metáfora e Metonímia Conceptuais, Semântica de Frames e suas contribuições para o estudo da significação do ESTUPRO; b) investigar e analisar as expressões metafóricas e metonímicas e explicar a estruturação conceptual, por meio dos esquemas imagéticos; c) analisar, no espaço brasileiro, os fatos sócio-históricos, políticos, ideológicos e culturais imbricados nas conceptualizações encontradas; d) analisar se a diferença do gênero textual e do conceptualizador interfere na conceptualização do ESTUPRO; e) verificar manutenções, variações e mudanças no modo de conceptualizálo no devir do recorte temporal estudado; e f) apresentar as metáforas e metonímias conceptuais, os esquemas imagéticos presentes na sua estruturação e os frames relacionados ao ESTUPRO a partir do estudo do corpus. Teve como aporte teórico os estudos da Linguística Cognitiva, em especial, da Teoria dos Modelos Cognitivos Idealizados, da Teoria da Metáfora e Metonímia Conceptuais e dos Esquemas de Imagem, da Semântica de Frames e da Teoria dos Protótipos, especificamente, as contribuições de Lakoff e Johnson (1980; 1999), Lakoff (1987, 1993, 2007), Johnson (1987), Barcelona (2012, 2009[1996]), Peña Cervel (2012), Fillmore (1982), Rosch (1978, 2011), Kövecses (1988, 1990, 2000, 2002, 2010, 2014, 2015), Kleiber (1995), Almeida (2021, 2020, 2018, 2016), Duque (2016), Eco (2013, 2007), Feltes (2007), dentre outros. Ademais, buscou estabelecer um caráter interdisciplinar, dialogando com os estudos da História (SOARES, 1999; VIEIRA, 2011), da Geografia (CAVALCANTI, 2002), da Filosofia (DESCARTES,1996 [1595-1650]), da Biologia (INGOLD, 1995), do Direito (VIANNA, 2002; WAITES, 2005), além das contribuições da Lexicografia (BLUTEAU, 1728; SILVA, 1789; PINTO, 1832; AURÉLIO, 1986; AULETE, 2020). O estudo desenvolvido foi pautado em uma metodologia qualitativa, baseada no paradigma da introspecção, de cunho descritivo-interpretativo, bibliográfico e documental. O corpus foi composto por textos jornalísticos, coletados no jornal O Estado de São Paulo, produzidos do século XIX ao XXI, constituído a partir de pressupostos da Teoria dos Fractais e da Técnica da Saturação Teórica. Os resultados foram organizados, a partir dos domínios da experiência identificados, e mostraram que a conceptualização do ESTUPRO é realizada por meio de diversos mapeamentos metafóricos e metonímicos, estruturados por esquemas-I, a partir de variados domínios-fonte, integrantes de diferentes frames que estão interconectados e constituem o domínio ESTUPRO. Além disso, não foram observados sinais de mudança conceptual no decorrer do tempo, nem em relação ao gênero textual e ao conceptualizador, mas mudança de perspectivação, que produz especificações do conceito, coexistindo em determinados períodos e promovendo a variação. Essa perspectivação diferenciada cria outras categorias de uma perspectivação já existente, estando relacionadas ao contexto social, cultural, histórico, político e ideológico no qual foram produzidas.