A gênese social dos valores no último Lukács
Lukács. Ética. Marxismo. Valor Moral. Ontologia do Ser Social.
As dificuldades do debate filosófico contemporâneo no lidar com problemas especificamente morais dos dias de hoje, como são enunciados pelos percalços da individuação erigidos pelas novas relações sociais que são postas, além do uso oportunista da moralidade pelo neofascismo, remontam ao diagnóstico do filósofo húngaro György Lukács acerca da necessidade da constituição de um tertium datur para a redução da ética às alternativas do historicismo relativista e do dogmatismo metafísico. Imbuído de tal perspectiva, o filósofo marxista projetou um ambicioso itinerário teórico em torno da compreensão da moralidade, aliando cuidado histórico e objetividade social. A morte do autor, contudo, legou para a posteridade apenas o trabalho de fundo para reflexão ética posterior, uma ontologia do ser social, e as notas organizadas pelo filósofo para orientar a sua própria escrita. O objetivo deste estudo é o cotejo entre tais textos remanescentes, para que se possa sistematizar a contribuição de Lukács para a compreensão da gênese social do valor moral. Para tanto, a reconstrução de seu pensamento parte das condições de autoprodução humana, que consolidam como primeira forma de valoração o valor de uso, seguindo para a sua mediação com o desenvolvimento da socialidade que fornece bases para a formação do valor moral e, finalmente, os problemas relacionados ao desenvolvimento histórico e objetivo da moralidade e as descontinuidades de sua apropriação pelos indivíduos sociais. Assim, pretendemos sistematizar o estatuto que Lukács confere ao valor moral, por via de sua gênese social, situando-o no complexo de complexos do agir humano.