DIALÉTICA COMO APROPRIAÇÃO E DEVORAÇÃO: Uma interpretação filosófica da modernidade
apropriação; dialética
Esta pesquisa investiga a noção de apropriação em relação com a modernidade, a partir da filosofia. A tese que busco fundamentar é de que, tomando a apropriação como estruturante da dialética que orientou o discurso filosófico da modernidade, podemos oferecer uma versão da apropriação como devoração que pode ser sustentada filosoficamente como perspectiva de modernidade em seu caráter transformador e afirmativo. Há um sentido existencial da apropriação na filosofia pós-hegeliana posto por Max Stirner, bem como há um papel importante da noção de apropriação na filosofia materialista transformadora de Karl Marx – ambos partindo da dialética hegeliana, onde o conceito de apropriação é inserido. Tomando a modernidade como o tempo das rupturas e mudanças, do protagonismo técnico, da autonomia do indivíduo e da ascensão das democracias, a filosofia que quer apreender o seu tempo e contexto como matéria de reflexão – ou seja, a filosofia (pós)hegeliana, uma filosofia da transformação – orientará as perspectivas desse tempo. Isso enseja atitudes diante da modernidade: de rejeição ou realização, de afirmação ou negação. No contexto periférico da modernidade, partindo também da influência hegeliana, Oswald de Andrade desenvolve a sugestão da antropofagia como uma visão de mundo. Aqui o sentido transformador da dialética e da modernidade é radicalizado numa operação positiva, anti-colonial, exuberante, tanto em uma dimensão existencial como numa oferta de perspectiva globalizada. Considero que esta orientação da dialética não explorada na filosofia (a da antropofagia) é também um caminho para a modernidade. Seus limites e vantagens é o que esta pesquisa quer, por fim, apontar, na forma de uma narrativa filosófica que parte do estabelecimento do discurso filosófico da modernidade para o que chamarei de uma dialética da devoração, uma antropofagia prático-criadora.