O silenciamento como problema epistemológico
Silenciamento, testemunho, injustiça epistêmica, resistência epistêmica
O objetivo desta dissertação é analisar o silenciamento como um problema epistemológico. Do modo como está sendo entendido neste trabalho, o silenciamento refere-se a um fenômeno comunicativo em que um emissor mantém suas palavras para si em vez de enunciá-las ao seu interlocutor. Enquanto problema linguístico, o silêncio prejudicial não é aquele derivado de uma estratégia ou deliberação em que pretenso emissor cede a vez para que o seu interlocutor se pronuncie, pelo contrário, refere-se a um silêncio imposto em que os emissores são coagidos a não se manifestar. No que tange este problema enquanto questão epistemológica, o tipo de ato comunicativo em questão são aqueles que visam a transmitir conhecimento para outras pessoas. A partir da obra inaugural de Miranda Fricker, Epistemic Injustice: Power and Ethics of knowing (2007), foi aberto na filosofia analítica um frutífero campo de investigação acerca de como as relações sociais podem interferir negativamente nas práticas produção, manutenção e disseminação do conhecimento. Esta obra está situada no campo da epistemologia social e, portanto, concebe os agentes individuais e coletivos dentro dos contextos e dinâmicas do mundo real, considerando as estruturas sociais as quais ele está submetido – nesse sentido, afastando-se do sujeito de conhecimento tomado em abstrato pela epistemologia clássica. Partindo destas considerações, a proposta desta dissertação é entender o papel do testemunho na vida cognitiva de outras pessoas, analisar os mecanismos epistemicamente disfuncionais que induzem determinados indivíduos e grupos a serem silenciados e, por fim, vislumbrar possibilidades de reversão desses processos através de virtudes e práticas que promovam justiça epistêmica, isto é, a abertura e inclusão de agentes marginalizados nas práticas epistêmicas.