Análise de redes de comorbidades em pacientes hospitalizados com COVID-19 e desfechos adversos: uma coorte multicêntrica no Nordeste do Brasil
Doenças Crônicas Não Transmissíveis; Infecção por SARS-CoV-2; Unidades de Terapia Intensiva, Mortalidade Hospitalar, Modelos Estatísticos.
Introdução: As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são a principal causa de morbimortalidade e contribuíram para a piora dos desfechos clínicos na COVID-19, especialmente em contextos de maior vulnerabilidade social. Contudo, análises estatísticas tradicionais não capturam a complexidade das interações entre essas comorbidades. Objetivo: Mapear os padrões de coocorrência entre as DCNT e sua relação com os desfechos de internação em unidade de terapia intensiva (UTI) e óbito em pacientes diagnosticados com COVID-19. Método: Estudo de coorte multicêntrico, com pacientes adultos e idosos hospitalizados por COVID-19 em oito estados da região Nordeste do Brasil. Foram analisadas as DCNT autorreferidas ou registradas em prontuário, bem como os desfechos clínicos de internação em UTI e óbito. A análise de redes foi utilizada para identificar padrões de coocorrência entre as comorbidades, por meio do cálculo da razão observada/esperada (OER) e das métricas de centralidade (grau, força, proximidade e intermediação). Resultados: A amostra incluiu 1.050 pacientes, dos quais 85,4% tinham ao menos uma DCNT e 60,8% apresentavam multimorbidade (≥2 DCNT). As taxas de internação em UTI e óbito foram de 59,8% e 31,1%, respectivamente. A análise de redes revelou forte coocorrência entre doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e doenças respiratórias (OER = 4,70 na UTI e 5,45 nos óbitos), DPOC e insuficiência renal crônica (IRC) (OER = 3,71 na UTI e 4,13 nos óbitos) e câncer com DPOC (OER = 4,40 na UTI e 3,91 nos óbitos). IRC e cardiopatias foram as comorbidades mais centrais na rede, com destaque para grau 5 e intermediação 4,33 na IRC e grau 4 e intermediação 3,25 nas cardiopatias entre os óbitos. Conclusões: A presença de múltiplas DCNT teve papel central na piora dos desfechos clínicos da COVID-19 de internação em UTI e óbito. A análise de redes revelou que IRC, DPOC e cardiopatias são altamente conectadas e impactam significativamente a gravidade clínica. Os resultados evidenciam que o risco decorre não apenas da presença isolada de comorbidades, mas de sua interação.