A PRODUÇÃO DO CUIDADO À SAÚDE E ATENÇÃO NUTRICIONAL ÀS PESSOAS INDÍGENAS COM CONDIÇÕES CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA
Saúde de Populações Indígenas, Atenção Primária à Saúde, Doenças Crônicas não Transmissíveis, Interculturalidade.
As populações indígenas são povos originários constituídos por distintas coletividades e culturas que se identificam e possuem uma organização própria. A saúde das populações indígenas é garantida pela Constituição Federal do Brasil de 1988 e a Atenção Primária à Saúde (APS) é porta de entrada no Sistema Único de Saúde que visa assegurar a assistência de forma integral. Em áreas indígenas, as ações e serviços da APS devem partir de uma perspectiva colaborativa que envolve reconhecer e valorizar a diversidade cultural dos povos, principalmente, quanto a interculturalidade e as práticas de cuidado tradicionais. O objetivo
deste estudo é compreender como é produzido o cuidado à saúde e atenção nutricional às pessoas indígenas com condições crônicas não transmissíveis a partir da perspectiva de profissionais de saúde na atenção primária no Polo Base de Paulo Afonso do Distrito Sanitário Indígena da Bahia. Trata-se de um estudo exploratório qualitativo, cujos dados foram produzidos a partir de entrevistas semiestruturadas com nove profissionais de saúde indígena, entre os anos de 2022 a 2023. As entrevistas foram analisadas através de análise de conteúdo exploratória, na qual emergiram nove subcategorias, distribuídas em três categorias:
atenção à saúde indígena/produção do cuidado, interculturalidade e desafios para a produção do cuidado. Os entrevistados relatam que o cuidado à saúde indígena é realizado de forma interdisciplinar, incluindo ações educativas e respeito às práticas tradicionais. As narrativas mencionam o aumento das condições crônicas não transmissíveis na população atendida, associadas às mudanças nos modos de vida e hábitos alimentares. No que se refere à interculturalidade, o entendimento dos profissionais é respeitar a cultura, ter um olhar diferenciado, além disso, que a medicina tradicional e o modelo biomédico devem caminhar juntas, de modo que se agreguem. Os desafios para a produção do cuidado incluem conflitos de territórios, a falta de infraestrutura básica, sobrecarga de trabalho, uso excessivo de medicamentos alopáticos, o acesso a alimentos de qualidade, substituição dos alimentos tradicionais por ultraprocessados, e a dificuldade de adesão ao tratamento dos indígenas assistidos. Destaca-se a importância do território para promoção da segurança alimentar e nutricional. Além de estratégias que conciliem as práticas tradicionais e o modelo biomédico,
para promover um cuidado integrado. Os resultados contribuem para ampliar a discussão sobre o tema, ainda pouco abordado, especialmente, na região Nordeste.