Milton Almeida dos Santos [1926-2001]; Ditadura civil-militar; Memória; Exílio.
Trata-se de tese de Doutorado que analisa o impacto da ditadura civil-militar brasileira na trajetória do intelectual Milton Almeida dos Santos (1926-2001), e as especificidades das violências cometidas pelo regime ditatorial. Muito conhecido pela sua influente obra na Geografia, Milton Santos também atuou como jornalista nos anos 1950/1960, além de ocupar cargos públicos expressivos. Como intelectual público, transitou em instâncias importantes da sociedade baiana e da vida política nacional, seja como membro do jornal A Tarde (o qual ele próprio considerava funcionar “como um partido”), seja ocupando funções como de subchefe do gabinete civil de Jânio Quadros na Bahia (1961), ou de Presidente da Comissão de Planejamento Econômico (CPE) do Estado (1963-1964). Foi exercendo este último cargo, em 1964, que o golpe civil-militar o levou à prisão, e o obrigou a um exílio que duraria treze anos. A esta altura, também era Professor da Universidade da Bahia, de onde acabou se exonerando em 1968, em decorrência do afastamento e das pressões provocadas pelo regime. A pesquisa analisou o Inquérito Policial Militar que processou Milton Santos e outros funcionários da CPE (“IPM da CPE”), e que levantou acusações de “subversão” e de “corrupção administrativa”, num contexto de instauração do regime ditatorial. A análise também buscou observar como as memórias sobre estas experiências foram/são mobilizadas, seja por ele próprio, seja por pessoas cujas trajetórias também estão imbricadas à sua, mediante consideração destes testemunhos públicos. No estudo, também é analisado um conjunto de mensagens recebidas por Santos durante o período de prisão, de autoria do jornalista e escritor Walfrido Moraes, em que figuram indícios relevantes do impacto do golpe na sociedade baiana. Também são analisados documentos da Universidade Federal da Bahia, relativos à condução do seu caso, no âmbito da burocracia universitária; além de uma leitura sobre as etapas do seu exílio, no curso da ditadura civil-militar, em suas dimensões acadêmicas, políticas e de memória. Para o expediente, foram cunhados/mobilizados conceitos como de “poder conformador” e de “dinâmicas de conformação”, para uma compreensão sobre o influxo social da ditadura nas redes de sociabilidade e instituições por onde o intelectual transitava/atuava, e que ajudam na compreensão do caso.
ABSTRACT: This doctoral thesis analyzes the impact of the Brasilian civil-military dictatorship on the career of intellectual Milton Almeida dos Santos [1926-2001], and the specificities of the violence committed by the dictatorial regime. Well-known for his influential work in Geography, Milton Santos also worked as a journalist in the 1950s and 1960s, in addition to holding important public positions. As a public intellectual, he worked in important instances of Bahian society and national political life, whether as a member of the newspaper A Tarde (which he himself considered to function “like a political party”), or holding positions such as Chief of Staff of Jânio Quadros in Bahia, and President of the Economic Planning Commission of Bahia (CPE), between 1963 and 1964. It was while serving in this latter position, in 1964, that the civil-military coup led to his arrest and forced him into exile for thirteen years. At his time, he was also a professor at University of Bahia, from which he eventually resigned in 1968, due to his remoteness and pressure from the regime. The research analyzed the Military Police Inquiry that prosecuted Milton Santos and other CPE employees (“IPM da CPE”), and which raised accusations of “subversion” and “administrative corruption”, in the context of the establishment of the dictatorial regime. The analysis also sought to observe how memories of these experiences were/are mobilized, either by Santos himself or by people whose trajectories are also intertwined with his, through consideration of these public testimonies. The study also analyzes a set of messages received by Santos during his imprisonment, written by journalist and writer Walfrido Moraes, which contain relevant evidence of the civil-military coup’s impact on Bahian society. Documents from the Federal University of Bahia relating of his case within the university bureaucracy are also analyzed, as well as an understanding of the stages of his exile during the civil-military dictatorship, in its academic, political, and memorial dimensions. Concepts such as “shaping power” and “shaping dynamics” were coined/mobilized for this study, to understand the social influence of the dictatorship on the social networks and institutions through which the intellectual moved and worked, which help in understanding the case.