“OS HOMENS E AS COISAS DO CARIRI”: os escritos de Raimundo de Oliveira Borges e a construção do espaço regional
(Auto)Biografia. Cariri cearense. Intelectuais. História da Historiografia. Região.
Esta tese investiga como os escritos e a atuação de Raimundo de Oliveira Borges (1907- 2010) - jurista, memorialista, historiador, professor e membro-fundador do Instituto Cultural do Cariri (ICC) - contribuíram para a construção e perpetuação do espaço regional do Cariri cearense. Analisam-se seus escritos publicados entre as décadas de 1950 e 2010 (em jornais, revistas, livros e opúsculos), com foco em dois eixos entrelaçados: 1) a elaboração de uma escrita de si, na qual Borges forjou sua identidade como intelectual “regional”; e 2) a (re)construção do regional no Cariri cearense por meio de narrativas memorialísticas e historiográficas. Para responder ao problema proposto, mobilizou-se um corpus diversificado de fontes, incluindo desde suas publicações até documentos pessoais (cartas, discursos, fotografias), além de registros iconográficos. Este objeto foi analisado a partir do campo da História dos Intelectuais e da História da Historiografia, examinando-se como suas obras históricas e memorialísticas se inseriam na cultura historiográfica de seu tempo, com destaque para os métodos e posicionamentos epistêmicos que orientaram sua produção. As análises demonstraram que sua escrita de si e atuação operaram como elementos de reforço para as fronteiras simbólicas da região ao se apresentar como “escritor regional”. Quanto ao lugar social de sua produção, destaca-se que seus escritos foram orientados por uma cultura historiográfica específica, que tomou a cidade do Crato como ordenador epistemológico de análise, responsável por tensionar uma desigualdade espacial na construção de uma “história regional”. Para isso, elaborou suas narrativas a partir: 1) do topos da história magistra vitae; 2) do desejo de verdade e justiça (evidenciando o diálogo entre Direito e História); e 3) do modelo de escrita (auto)biográfica, ao narrar vidas para escrever história.