ANTES DE CURAR OS OUTROS, CURA-TE PRIMEIRO! MULHERES NEGRAS, CANDOMBLÉ E PRÁTICAS DE CURA NA ILHA DE ITAPARICA (1880-1910
Mulheres negras, Práticas de Cura, Candomblé
A presente pesquisa objetiva investigar as práticas de cura conduzida por mulheres negras de Candomblé na Ilha de Itaparica, entre 1880-1910. O período de pós-abolição e início da República foi marcado por mudanças significativas na sociedade baiana, influenciadas também pelos padrões europeus de civilidade. Nesse contexto, as mulheres negras desemprenharam um papel crucial na luta por sua subsistência individual e familiar, estabelecendo redes de solidariedade, afetividade, cuidado e cura. Tais experiências preservaram e reafirmaram politicamente os costumes e tradições culturais herdadas por elas. Para tanto, o estudo adota abordagens teóricas com suporte de autoras afro-americanas para considerar a experiência social e cultural das mulheres negras nos debates de gênero, raça e classe propostas pela temática e contexto histórico. Fundamenta-se na análise e cruzamento de fontes escritas (inventários, testamento, processos-crime) do Arquivo Público do Estado da Bahia e Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, assim como fontes orais da Iyalorixá, Ana de Katendê, do terreiro Ilê Oyá Axé Alakayê, em Vera Cruz (BA), a fim de contextualizar socialmente e culturalmente as experiências com as práticas de cura por via da tradição. Assim, a pesquisa destaca o papel crucial da oralidade como fonte, tendo em vista os alicerces da tradição na transmissão do conhecimento no Candomblé, e metodologia, no preservação de memórias e experiencias do povo negro, especialmente no contexto pós-abolição. Também discute as fronteiras que separam e aproximam as fontes escritas e orais no estudo histórico da mulher negra nesse período, considerando o lugar político e contextual destas na produção de memória histórica