Análise genotípica do Vírus da Imunodeficiência Humana do tipo 1 (HIV-1) circulantes na Bahia.
HIV-1; Recombinantes; BF1; Bahia.
Até o final de 2020 cerca de 37 milhões de pessoas no mundo viviam com o HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana), agente etiológico da AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida). O HIV é classificado em dois tipos, HIV-1 (HIV tipo 1) e HIV-2 (HIV tipo 2), sendo o HIV-1 o mais comum em todo mundo. O HIV-1 é classificado em quatro grupos M, N, O e P. O grupo M se espalhou ao redor do mundo e se diversificou em dez subtipos (A-D, F-H, J-L). A recombinação intersubtipos ocorre comumente, representando cerca de 23% das infecções globais por HIV. No Brasil, há destaque para os recombinantes BF1, onde já foram descritas 10 CRF_BF (Formas Recombinante Circulante entre os subtipos B e F1) das 19 identificadas no mundo. Na Bahia, estudos prévios mostraram que recombinantes BF1 com mesmo padrão de recombinação na região pol circulavam na região, o que poderia indicar a presença de uma nova CRF_BF1. O presente teve como objetivo sequenciar genomas do HIV1 circulantes na Bahia no intuito identificar, estudar e comparar estes recombinantes. Foram sequenciadas amostras de 104 pacientes, em tratamento antirretroviral, acompanhados no Hospital Universitário Professor Edgard Santos (HUPES) em Salvador e residentes no estado da Bahia que aceitaram participar do estudo. As sequências geradas foram submetidas a análises filogenéticas, de recombinação, moleculares e de resistência a antirretrovirais. Em relação a prevalência dos subtipos de HIV-1 na Bahia 74,5% foram classificadas como subtipo B, 16,3% recombinantes BF1, 4,1% do subtipo C, 3,1% do subsubtipo F1, 1% do subtipo D, 1% de recombinante BC, 1% de recombinante A1B e 1% de recombinante CRF02/BF1. Entre os 18 isolados virais recombinantes BF1 totais, 14 padrões diferentes de recombinação entre subtipo B e subsubtipo F1 foram observados. Dentre os pacientes participantes 59,8% pertencem ao sexo masculino e 63,7% se declararam heterossexuais. Um total de 42,9% (39/91) das sequências apresentou mutações que conferem algum nível de resistência a antirretrovirais: 10,8% para os Inibidores de Protease (PI), 29,7% para os Inibidores nucleosídicos da transcriptase reversa (NRTI), 31,9% para os Inibidores não nucleosídicos da transcriptase reversa (NNRTI) e de 9,0% para os Inibidores da integrase (INSTI). Estas mutações encontradas conferem os maiores níveis de resistência aos fármacos Nelfinavir (NFV), Emtricitabina (FTC), Lamivudina (3TC), Nevirapina (NVP) e Efavirenz (EFV). Não houve diferença na prevalência de mutações associadas com alto nível de resistência entre os subtipos B e não-B ou entre B e BF1. Os dados indicam que a epidemia local é marcada por alta diversidade de genótipos de HIV-1 e novos padrões de recombinação na população viral circulante na Bahia foram encontrados. Em particular, a identificação de diversos padrões de recombinação BF1 encontrados neste trabalho evidenciam a complexidade da epidemia de HIV no estado e reforça a necessidade de estudos de epidemiologia molecular constantes.