“A GENTE” COMO AGENTE: VIVÊNCIAS DE PESSOAS NEGRAS NOS CURSOS IMPERIAIS DA UFBA.
Relações Raciais; Mobilidade Social; Ensino Superior; Vida Estudantil; Etnometodologia.
Historicamente, um dos desafios que atravessam o percurso de ascensão social das populações negras é o racismo. Como resistência a este fenômeno, há séculos essas populações desenvolvem estratégias para garantir a possibilidade de tornarem-se membros de ambientes outrora reservados às elites brancas, como as universidades. Essas estratégias, por sua vez, passam por movimentos abolicionistas a práticas cotidianas ordinárias. Tratando-se mais especificamente das universidades federais brasileiras, campo de interesse deste estudo, dados atuais indicam que seu perfil estudantil é majoritariamente negro; no entanto, pesquisas de caráter localizado, como em cursos de prestígio como Medicina, demonstram que há ainda uma grande disparidade quantitativa entre pessoas pretas, pardas e brancas nesses espaços. Medicina, ao lado de Direito e Engenharia, compõem os chamados “cursos imperiais”, nomeados assim por terem sido fundados ainda na era Imperial do Brasil. Tradicionalmente, o perfil de estudantes desses cursos é branco e de classe econômica alta. Diante dos tensionamentos decorrentes das dinâmicas das relações raciais, esses dados provocam o questionamento acerca das vivências de pessoas negras, tanto de estratos médios quanto populares, nestes cursos específicos. Ancorada na perspectiva etnometodológica e em diálogo com postulações teóricas de Frantz Fanon, a presente pesquisa teve como objetivo compreender os processos vividos por mulheres negras em tornarem-se membros dos cursos de Direito, Engenharia Elétrica e Medicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Assentado na abordagem qualitativa, este trabalho é uma análise de como essas estudantes percebem e como descrevem suas experiências cotidianas à medida em que vivem e se relacionam em contextos universitários considerados elitistas. Desse modo, esse estudo visa contribuir para as compreensões de como pessoas negras têm se tornado parte de ambientes elitistas.