EFEITOS DE SENTIDO DE INTERVENÇÃO MILITAR NO BRASIL: ANÁLISE DISCURSIVA EM TEXTOS DA FOLHA DE SÃO PAULO E DO G1
Memória discursiva. Mídia. Intervenção militar. Brasil.
Esta dissertação, embasada nos pressupostos teóricos da Análise do Discurso, teve como objetivo discutir os processos de apagamento, reelaboração ou manutenção de posições-sujeito em discursos sobre “intervenção militar” no Brasil, materializados em textos jornalísticos da Folha de São Paulo e do portal de notícias G1. No percurso, buscou-se analisar a inscrição sócio-histórica de produção e recepção desses discursos, investigar as construções ideológicas que podem ser percebidas, identificar como os sentidos de “intervenção militar” são transformados ou reafirmados no corpus em questão e discutir a relevância da mídia na produção dos sentidos de “intervenção militar” no Brasil no século XXI. Partiu-se da concepção de discurso como construção histórica e social por meio da qual se materializa a ideologia, sendo esta a maneira própria de constituição do indivíduo em sujeito por meio da linguagem. A partir, principalmente, de Pêcheux (1997a; 1995; 2008) e Orlandi (2010; 2012; 2017), tomaram-se aqui os atuais enunciados sobre “intervenção militar” como acontecimento discursivo e, por meio do exame da relação entre sentido e memória discursiva, procurou-se perceber os efeitos de sentido de “intervenção militar” que eles têm produzido. Os conceitos de heterogeneidades enunciativas e discurso relatado (AUTHIER-REVUZ, 1998; 2004) foram empregados como mecanismos que evidenciam ou dão pistas da tomada de posição dos sujeitos discursivos. Recorreu-se a Benetti (2010) para referir o jornalismo como acontecimento discursivo. Tatagiba (2018; 2019), Safatle (2010), Singer (2001; 2013) e Fico (2014, 2020; 2020a) foram utilizados para fundamentar as discussões sobre o contexto histórico e político brasileiro. O corpus principal foi composto por cinco textos jornalísticos referentes aos anos de 2016, 2017, 2018, 2019 e 2020. As análises realizadas na abordagem qualitativa demonstraram que, no corpus em questão, os atuais dizeres sobre “intervenção militar” mobilizam tanto discursos que vêm em defesa, quanto discursos de rejeição a tal modelo. Tanto mobilizam sentidos negativos relacionados à ditadura, quanto constroem seu funcionamento pelo silenciamento desses sentidos, atualizando a memória discursiva referente ao imaginário de ordem, salvação e progresso ligados às Forças Armadas.