Economia, Moral e natureza humana em David Hume
Empirismo, Economia, Moral, natureza humana, luxo, simpatia
A filosofia de David Hume possui como uma de suas características o fato de unificar o que tradicionalmente era pensado como pertencente ao âmbito da necessidade e o que era pertencente ao âmbito da liberdade. Hume pensa a Natureza como uma unidade, e embora suas obras apresentem divisões internas que distinguem as matérias entre o que é relativo ao entendimento, o que é relativo às paixões e o que é relativo à moral, o que percebemos é que estas divisões apenas servem para mostrar que o escopo das disciplinas pode ser integrado sob uma mesma abordagem, sob um mesmo princípio explicativo, tal qual a maneira como Newton unificou céus e Terra sob a gravitação universal. Mas seu pensamento passou por reformulações, e o que aparecia reunido no terceiro livro sobre a moral no Tratado da Natureza Humana se encontra disperso em sua síntese posterior em apêndices às Investigações sobre o entendimento humano e sobre os princípios da moral e em seus Ensaios morais, políticos e literários. Nestes textos encontramos sua reflexão acerca de temas como a justiça, a propriedade, os contratos e uma série de aspectos relacionados à Economia e à Política, entendidos sob o tratamento que dispensa ao luxo, ao refinamento, ao excedente e ao supérfluo, na medida em que os considera como objetos a um só tempo da moral e das paixões. O sentimentalismo moral de Hume impõe a consideração destes temas na chave da consideração entre o interesse privado e o interesse público, a ação do soberano e o bem na Nação, numa reflexão em que o desenvolvimento moral não está dissociado da prosperidade material. Assim, a compreensão mais precisa destes textos promove não apenas a oportunidade de considerar sua filosofia enquanto uma totalidade que enfrenta as questões empíricas expressas na História, na Política e na Economia, mas permite discernir a posição de Hume em debates candentes de sua época, num momento em que a Economia se formava enquanto corpo científico em separado da Moral. Sua maneira peculiar de entender a natureza humana lhe permitiu formular uma série de considerações de ordem econômica que não lhes dissociam da reflexão moral, uma vez que para Hume o móbil humano são as paixões. Assim entendidas, suas contribuições carregam as marcas que caracterizam a Economia até nossos dias: a de ser um corpo de conhecimentos prováveis, fundados antes na probabilidade que na certeza de leis internas conhecidas à maneira de últimas causas; e a de constituir-se num amálgama de descrição e prescrição, ao mesmo tempo destinada a explicar o fenômenos econômicos e influenciar em seus cursos futuros. A reflexão econômica de Hume fornece assim elementos para considerar as diversas vertentes teóricas em que a Economia contemporânea se divide hoje, na medida em que aponta que a operação de separação da Moral não se completou definitivamente e talvez não seja possível fazê-lo. Constitui desta maneira uma síntese possível; e ainda que limitada a alguns aspectos e pouco aparatada de instrumentais precisos de cálculo para orientar a ação política e econômica, oferece já diversos elementos que passaram a povoar o universo teórico da Economia, como por exemplo as noções de utilidade, prazer, excesso e a importância dos sentimentos para a explicação dos fenômenos econômicos.