MEDEIA NEGRA: o enegrecimento de uma personagem clássica a partir da vivência com mulheres em situação de encarceramento na criação de um solo de teatro.
Processo criativo colaborativo, voz, feminismo negro, teatro negro, performance
corporeo- vocal.
O presente estudo propõe uma análise do processo colaborativo de criação do solo
Medeia Negra, nono espetáculo do grupo Vilavox, criado junto a oficinas de literatura
realizadas no Conjunto Penal Feminino de Salvador pelo grupo Corpos Indóceis e
Mentes Livres, numa abordagem interdisciplinar e intercultural. Foram analisados os
elementos da criação do solo, tendo como base da pesquisa os conceitos de
feminismo negro, interculturalidade e teatro negro, articulados a proposta de
enegrecimento da personagem grega Medeia, da obra de Eurípedes, com o intuito de
criar, no jogo dramático, o cruzamento das vozes de mulheres negras um olhar
interseccional por meio de críticas ao capitalismo e ao sistema patriarcal que fomentam
o racismo e as desigualdades sociais. O trabalho descreve o processo de subjetividade
da atriz e a construção da dramaturgia da cena por meio dos mitos e Itans da cultura
afro e das partituras físicas e vocais desenvolvidas a partir dos princípios da
Antropologia Teatral de Eugênio Barba, por meio do estudo prático de corporeidades
como a capoeira angola e a mímica corporal dramática, enveredando em uma
performance do processo criativo colaborativo para descolonização do pensamento
europeu. Nesse processo foi possível concluir acerca da importância em criar caminhos
que possibilitem a desconstrução das obras clássicas para reafirmar a voz de grupos
silenciados historicamente.